A capacidade dos humanos para “anteciparem” movimentos e a “precisão” dos robôs encontraram-se hoje, em Guimarães, no primeiro duelo entre máquinas e uma equipa de futebolistas, no caso uma seleção feminina de vários escalões do Vitória de Guimarães.

Na conclusão da terceira edição da Euro RoboCup, decorrida no pavilhão multiusos de Guimarães, a equipa TechUnited, da Universidade Técnica de Eindhoven (Países Baixos), derrotou a equipa VDL, da mesma cidade neerlandesa, na final da liga de futebol para robôs com 40 quilos, os mais complexos daquele evento, e encontraram depois uma equipa humana composta por atletas das sub-13 às seniores vitorianas.

“Não foi a primeira vez que robôs defrontaram seres humanos. Já joguei contra robôs várias vezes. Mas um jogo entre robôs e uma equipa oficial de futebol foi a primeira vez. Nunca ninguém fizera isto”, adiantou agência Lusa Fernando Ribeiro, professor da Escola de Engenharia da Universidade do Minho, envolvido na organização do europeu de robótica e ainda membro da comissão do centenário do Vitória de Guimarães.

Depois de se impor aos ‘conterrâneos’ da VDL por 14-1, a Tech United começou o jogo, de cinco contra cinco elementos, diante da seleção feminina do Vitória a perder por 3-0, antes de as vimaranenses começarem a ceder mais espaço e tempo para os robôs, precisos no remate e cientes do posicionamento dos outros elementos no campo com 20 metros de comprimento e 14 de largura, recuperarem e empatarem a partida de 15 minutos a quatro golos.

A vencer por 4-1, a equipa humana recebeu ordens da treinadora Joana Costa para ‘facilitar’ o empate, permitindo assim aos robôs mostrarem do que são capazes na marca de penálti, onde até levaram a melhor, por 4-3, após Ronalda ver defendido um pontapé cobrado com um remate de ‘letra’, para testar a reação da máquina.

“O intuito acaba por ser a dinâmica do evento, a de promoção dos robôs. Acabámos por facilitar o jogo, para que pudessem exemplificar e demonstrar o que eram capazes de fazer”, esclarece a atleta de 25 anos, a única participante do conjunto sénior vitoriano, que milita na II Divisão nacional.

A futebolista classificou a “força do remate” e a “colocação de bola” como os “pontos fortes” dos robôs, e o líder da Tech United, René van de Molengraft, assinalou o facto de saberem “sempre onde estão” como a mais-valia das máquinas, ainda assim insuficientes para ‘ombrearem’ com a capacidade de “antecipação” dos humanos.

“Os robôs distinguem-se pela perspetiva muito precisa do campo. Sabem sempre onde estão. Sabem onde estão os colegas de equipa, os adversários e a bola. Isso ajuda-os a tomarem as melhores decisões (…). Mas os humanos são muito bons a antecipar todas as coisas. As pessoas sabem o que fazer com escassos movimentos”, esclarece o docente da Universidade Técnica de Eindhoven, fundador da equipa em 2005.

Como “só agem com base no que está a acontecer”, os engenhos criados nos Países Baixos estiveram “constantemente em movimento” frente às jogadoras do Vitória, algo que dá “conhecimento muito valioso” para o futuro, em que o objetivo do universo da robótica é o de criar uma equipa capaz de bater a campeã mundial de futebol humana em 2050.

“Para 2050, existe a meta de batermos o campeão do mundo de futebol masculino. Não tenho a certeza se será possível, mas os progressos que fazemos todos os anos vão nessa direção”, adianta René van de Molengraft, especificando que, daqui a 10 anos, haverá provavelmente “robôs humanoides” a jogar futebol e a “utilizar estratégias como seres humanos”.

Fernando Ribeiro crê igualmente que “a tecnologia está a evoluir de uma maneira que vai surpreender daqui a duas ou três décadas”, ainda que o futebol robótico seja muito dispendioso, com a liga mais complexa da Euro RoboCup a receber apenas as duas equipas neerlandesas e a diminuição recente do número de equipas lusas.

“Já tivemos as equipas da Universidade do Minho, do Instituto Superior de Engenharia do Porto, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, da Universidade de Aveiro e do Instituto Superior Técnico. Ainda existem duas equipas, mas não jogam. É muito caro manter uma equipa. Um robô de uma equipa portuguesa custa seis mil euros. Mas o guarda-redes da Tech United custa 200 mil”, esclarece.

Com outras três ligas de futebol para estudantes do ensino secundário, com robôs até 2,2 quilos, a Euro RoboCup contou ainda com provas de busca e salvamento robótico e de ‘performance’ criativa robótica, tendo reunido cerca de 700 participantes de 15 países europeus.