Cerca de 263 éguas e 28 garanhões vão fazer a prevenção de incêndios florestais na Serra da Cabreira. Uma iniciativa que junta a REN, a autarquia de Vieira do Minho, a ACERG (Associação de Criadores de Equinos da Raça Garrana) e a APOSC (Associação Para o Ordenamento da Serra da Cabreira), com o objetivo de ajudar na prevenção dos incêndios naquela região montanhosa e, ao mesmo tempo, criar condições para defender esta espécie garrana em extinção. Esta ação contempla ainda a criação de um sistema de pastagens melhoradas, bebedouros para os animais e colocação de GPS nos garanhões e éguas dominantes. Um trabalho que inclui também a ajuda da APOSC, que através das suas equipas de sapadores florestais, complementam o trabalho que não for executado pelos garranos nos corredores das Linhas de Transporte de Energia da REN.

Através de um protocolo assinado pelas quatro entidades, esta iniciativa prevê que a REN fique responsável por construir uma vedação, em alguns troços específicos, que vai impedir os garranos, em alturas de menor alimento no alto da Serra da Cabreira, de chegar facilmente à Estrada Nacional 103, diminuindo assim a possibilidade de acidentes rodoviários. Em complemento a esta medida, a REN vai criar um sistema de pastagens melhoradas e plantar espécies arbustivas autóctones em zonas selecionadas, o que vai contribuir para que os animais não sintam a necessidade de se deslocar para zonas mais perigosas para encontrar alimento, assim como contribuir para o aumento da biodiversidade. A REN será ainda responsável pela criação de bebedouros para os animais e pela colocação de localizadores GPS nos garanhões e éguas dominantes, com vista à sua monitorização.

A permanência mais prolongada dos garranos nas zonas altas da serra irá levar a que estes se alimentem principalmente nessas áreas. Como cada garrano come em média 20 a 25kg de alimento por dia, as 263 éguas e os 28 garanhões que vivem na Serra da Cabreira irão fazer a limpeza diária de cerca de sete mil quilos de vegetação, reduzindo substancialmente o risco de incêndio florestal. Este controlo natural da vegetação será acompanhado por equipas de sapadores florestais da APOSC, que contam com 3 brigadas de sapadores florestais, que vão complementar o trabalho que não for executado pelos garranos dentro dos corredores da REN.

A decisão sobre a colocação destas infraestruturas será coordenada pela ACERG em conjunto com a REN e faz parte da estratégia da associação para proteger a sustentação da raça, contribuindo, em simultâneo, para o desenvolvimento socioeconómico da região. Este protocolo fará ainda parte das políticas de prevenção aos incêndios florestais da Câmara Municipal de Vieira do Minho, nomeadamente através da sua inclusão no Sistema de Gestão Integrado de Fogos Rurais.

Para António Cardoso, presidente da CM de Vieira do Minho, “a formalização desta parceria concretiza um anseio antigo da ACERG e da APOSC, pois permitirá reduzir significativamente os acidentes que acontecem na EN 103. Como todos sabemos a EN 103 tem na sua bordadura inúmeros carvalhos, cujas bolotas são o alimento preferencial dos garranos. Estes animais descem da Serra à procura deste alimento, e como não existe nenhuma barreira física que impeça a sua passagem, muitas vezes acedem à estrada nacional, provocando acidentes, alguns deles com gravidade. Com esta parceria, a REN vem colmatar um problema de difícil resolução para o Município de Vieira do Minho.”

João Paulo Ribeiro, presidente da ACERG, vê “concretizado um projeto antigo da associação, resolvendo, desta forma, um problema grave – a passagem dos garranos para uma estrada de grande circulação, a EN 103. Este acordo de parceria permite ainda, a salvaguarda do bom nome do garrano, raça milenar que coabita este território com outra espécie protegida, o lobo ibérico”.

Segundo Rui Dantas, da APOSC, “a Serra da Cabreira sai a ganhar com esta parceria. Assistimos com enorme satisfação à implementação deste projeto, pois um dos grandes objetivos da associação, desde a sua génese, é preservar, valorizar e promover o ordenamento da Serra da Cabreira”.

Para João Gaspar, responsável pela área de Redes Sustentáveis e Servidões da REN, “na empresa acreditamos que a prevenção é a melhor forma de prevenir os incêndios florestais. Todos os anos limpamos milhares de hectares em todo o país em redor das nossas infraestruturas, criando possibilidades de combate para os bombeiros e equipas de proteção civil. Poder juntar essa vertente da prevenção ao apoio à conservação da raça garrana é algo de que a REN se orgulha. Agradecemos à ACERG, à APOSC e à CM de Vieira do Minho por se terem juntado a nós neste projeto experimental onde vão gerir cerca de 100 hectares”.

Raça com raízes no Paleolítico

A Raça Garrana é uma das quatro raças de equinos autóctones de Portugal, juntamente com a Lusitana, a Sorraia e o Pónei da Terceira. Está presente no território português desde o período Quaternário, o que permite considerá-lo uma relíquia da fauna do Paleolítico. A raça Garrana é, desde 1994, alvo de um programa de conservação e melhoramento genético animal, gerido pela ACERG, sob a orientação e coordenação da Direção Geral de Alimentação e Veterinária. A nível do grau de risco de erosão genética das raças autóctones, a raça Garrana, encontra-se incluída no grau mais elevado de ameaça de extinção (Grau A – Risco muito elevado).

A ACERG, formada em 1990, tem como principais objetivos a defesa da raça, promovendo a sua existência como meio de desenvolvimento rural e integrado, rentabilizando o ecossistema de montanha e ajudando à fixação das populações.

A APOSC foi criada em julho de 2003 com o objetivo de divulgar, promover, valorizar e desenvolver o ordenamento da Serra da Cabreira. Ao trabalhar os recursos da Serra de forma sustentável, pela excelência da técnica e da ciência, envolvendo as comunidades e os municípios envolventes, promove o seu ordenamento e cria valor para as gerações futuras.

A Câmara Municipal de Vieira do Minho assume a floresta, a agricultura e o turismo como três áreas prioritárias e estratégicas para seu território. A revitalização da Serra da Cabreira e dos seus ativos é encarrada como um objetivo estratégico a prosseguir.

A REN, no âmbito das suas políticas de sustentabilidade e de apoio às comunidades e de prevenção aos incêndios florestais, efetua um trabalho permanente nas suas faixas de servidão em todo o país em conjunto com a AGIF, ICNF, ANEPC e os municípios onde se encontram instaladas linhas elétricas e gasodutos afetos à concessão da Rede Nacional de Transporte de Eletricidade e da Rede Nacional de Transporte de Gás Natural. Nos últimos cinco anos, a REN efetuou a limpeza de mais de 38 mil hectares (9 mil hectares em 2021) e rearborizou mais de 3,6 mil hectares nas áreas de servidão, aumentando a biodiversidade e a resiliência aos incêndios florestais.