Agosto trará um novo agravamento da prestação da casa para os contratos que foram revistos. Aumentos chegam aos 100 euros no caso dos empréstimos com Euribor a 12 meses.

O Banco Central Europeu (BCE) deu finalmente o tiro de partida na subida das taxas diretoras da Zona Euro, anunciando um aumento surpresa de 50 pontos base e acabando com os juros negativos na região. E prometeu não ficar por aqui para travar a escalada da inflação. O aperto monetário do BCE é uma má notícia para quem tem crédito à habitação. Há meses que a prestação da casa está a subir e a tendência de subida não vai ficar por aqui. Já no próximo mês, a revisão das condições dos contratos vai agravar a prestação entre 5% e 23%, de acordo com os cálculos do ECO, colocando as famílias sob maior pressão.

Quando decidiu aumentar as taxas há uma semana, o BCE apontou para mais subidas nas próximas reuniões, com a presidente Christine Lagarde a assegurar que os juros vão subir até que a inflação regresse ao objetivo de 2% no médio prazo – estava acima dos 8% em julho. As próximas reuniões do banco central deverão trazer mais novidades neste capítulo.

Sensíveis às condições do mercado, nomeadamente as taxas do BCE, as Euribor — usadas nos contratos financeiros, servindo como indexante nos empréstimos dos bancos para a compra de casa — há muito que vêm mantendo uma trajetória de subida, já antecipando os movimentos do banco central, com impacto direto no bolso das famílias que têm de lidar com os efeitos negativos da subida dos preços das coisas que consomem no dia-a-dia.

Há duas semanas foi a Euribor a três meses a voltar a terreno positivo, depois de ter flutuado abaixo de zero durante sete anos, num dos últimos sinais de aperto das condições financeiras das famílias, e acompanhando uma inversão que já havia sido feita pelas Euribor com prazos a seis e 12 meses.

Não há certezas sobre quanto mais e até quando as taxas de juro poderão subir mais. Os analistas apontam para subidas até aos 1,5% e 2%. A Euribor a 12 meses tem estabilizado nas últimas semanas em torno de 1%, numa altura em que os analistas vão mudando o foco da atenção da inflação para a possibilidade de a Zona Euro deslizar para uma recessão, um cenário que poderá colocar um travão nas subidas do BCE. 

Prestação sobe até 100 euros

Todas estas notícias são particularmente importantes para as famílias portuguesas a pagarem casa ao banco. Mais de 90% dos contratos são associados a taxa variável, ou seja, acompanham o sobe e desce das Euribor. Porém, nos últimos meses, estas taxas registaram subidas tão dramáticas que é certo que a prestação da casa vai dar um novo salto em agosto. Isto é válido para os contratos cujas condições vão ser revistas no próximo mês, sendo que o agravamento da prestação vai divergir consoante o prazo do indexante a que está associado o contrato.

Assumindo um empréstimo de 150 mil euros, com o prazo de 30 anos e um spread de 1%, as famílias com créditos associados à Euribor a seis meses vão ver a prestação subir cerca de 14% no próximo mês, refletindo um agravamento de quase 64 euros para mais de 514 euros, segundo as simulações realizadas pelo ECO.

Mais penalizado sairá quem tiver um empréstimo indexado à Euribor a 12 meses, que tem vindo a conquistar a preferência dos portugueses nos últimos anos. Neste caso, e assumindo os mesmos pressupostos do crédito de 150 mil euros, a prestação da casa vai agravar-se mais de 23%, com as famílias a pagarem mais 104 euros em relação à última revisão feita há um ano. A prestação mensal subirá assim para mais 554 euros.

Nos contratos com indexante a três meses, a revisão de julho trará uma subida mais contida: a prestação da casa aumenta 6%, ou cerca de 28 euros, para 484 euros. Mas os valores voltam a ser revistos daqui a três meses.

Bancos desvalorizam subida dos juros

Face ao impacto da subida das taxas de juro, os bancos desvalorizam e dizem-se mais preocupados com os efeitos da inflação no rendimentos das famílias. “A taxa de juro é das variáveis que menos preocupa”, considerou esta quinta-feira o presidente do Santander Totta, Pedro Castro e Almeida, dizendo, por outro lado, que a inflação é a “principal variável” de alerta e que “na população mais pobre tem e terá um efeito muito grande”.

Na véspera, o CEO do BCP, Miguel Maya, afirmou que estamos perante “um processo de normalização da política monetária” e não de “uma subida dos juros para fora da normalidade”. “Fora da normalidade é o que ainda hoje temos que é taxa zero. Isto é ainda uma anormalidade. Ainda não estamos dentro de uma política monetária normal”, frisou.