Ardeu menos 70% que são 90.000 hectares. Viva o PS: deviam ter ardido 129.00 hectares“, comenta-se no post de 20 de agosto no Facebook, enviado ao Polígrafo com pedido de verificação. Mostra uma imagem do que parece ser o título de uma notícia, baseado numa suposta citação de Patrícia Gaspar, secretária de Estado da Proteção Civil, que terá afirmado que “‘ardeu 70% menos daquilo que era suposto arder‘ face às condições meteorológicas”.

Logo a seguir destaca-se que “Portugal é o terceiro país com maior área ardida da União Europeia: 92 mil hectares”. E ainda se acrescenta outro comentário: “Quando temos este tipo de políticos, está tudo dito. Desculpam a sua incompetência desta forma, dizendo que o mau foi bom.”

Mas será que esta frase foi mesmo proferida por Patrícia Gaspar, tal e qual?

Na última sexta-feira, 19 de agosto, a secretária de Estado da Proteção Civil alertou, em entrevista à SIC Notícias, para a “bomba-relógio” da situação dos incêndios rurais (ou florestais) em Portugal, sublinhando o elevado risco a que o país tem estado exposto: “Estamos a viver uma realidade muita complexa do ponto de vista meteorológico, mas temos feito um esforço para acompanhar a velocidade das alterações climáticas.”

Por entre vários alertas dirigidos aos portugueses, Patrícia Gaspar assegurou contudo que a área ardida – que já superou um total de 92 mil hectares no presente ano de 2022 – é ainda inferior ao que seria esperado:

“Se considerarmos a severidade meteorológica, os algoritmos e as contas feitas dizem que a área ardida que deveríamos ter deveria ser 30% superior. Ou seja, ardeu 70% daquilo que era suposto arder face às condições de severidade meteorológica que temos. Isto significa que, apesar da complexidade, o dispositivo tem estado a responder bem e tem estado a conseguir regular grande parte das ocorrências nos primeiros 90 minutos.”

Ou seja, não, a secretária de Estado da Proteção Civil não disse que “ardeu menos 70% daquilo que era suposto arder”. Trata-se de uma citação apócrifa, em que se deturpa a frase original.

  • Em declarações à CNN Portugal, ontem à noite António Carvalho, ex-coordenador de Investigação Criminal da Polícia Judiciária, afirmou que “todos os anos falamos dos números, mas eles têm-se mantido constantes, com uma pequena variação, de 98%, 99%, por isso a grande maioria, a quase totalidade dos incêndios em Portugal advêm da intervenção humana”. Tem razão?

Quanto à origem dos dados, e depois de ter sido acusada de fazer mal os cálculos, fonte oficial do Ministério da Administração Interna confirmou ao jornal “Observador” que se baseiam num valor que o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) comunicou a Patrícia Gaspar.

Esta estimativa representa, assim, “a área ardida total que se obteria se todos os incêndios seguissem o comportamento médio histórico face à severidade meteorológica do dia e local em que ocorreram”, informou o ICNF.

Ao jornal “Observador”, o ICNF forneceu os dados diários e provisórios relativos a 21 de agosto, dois dias depois da entrevista de Patrícia Gaspar: “Após a atualização das contas, o valor total de área ardida ponderada até àquele dia foi revisto para 139.879 hectares. O valor de área ardida real, no entanto, foi de 93.904 hectares, ou seja, 67% da estimativa.”