Um grupo de ativistas e políticos moçambicanos vai realizar, no sábado, uma marcha pela liberdade e pelo direito à manifestação em Maputo, três meses depois da repressão policial violenta de uma iniciativa similar que culminou com vários feridos.

“Nós decidimos marchar, uma vez mais, pela liberdade porque sentimos que há no país um retrocesso em relação aos direitos fundamentais dos cidadãos, muito especialmente em relação ao artigo 51.º da Constituição, que nos dá o direito de se manifestar e marchar”, declarou à Lusa Salomão Muchanga, ativista e político moçambicano que está a organizar a iniciativa.

A iniciativa ocorre quatro meses após a repressão policial violenta de uma marcha em homenagem ao rapper de intervenção social Azagaia, episódios que deixaram vários feridos e que foram condenados por várias entidades e organizações, classificando-os como um dos sinais mais visíveis das limitações à liberdade de expressão e de manifestação no país.

Para a nova marcha, que visa exaltar “figuras que se bateram pela liberdade” no quadro das celebrações dos 48 anos de independência, que se assinalam no domingo, as autoridades foram avisadas e os organizadores acreditam que não se vão registar episódios violentos.

“Nós não podemos viver do medo, somos um povo livre […] Estamos seguros de que uma vez comunicadas as autoridades, dentro dos prazos estabelecidos por lei, está tudo garantido para que esta marcha ocorra”, frisou Salomão Muchanga.

A Lusa contactou o Comando-Geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), que confirmou que equipas serão enviadas ao terreno para “garantir a segurança das pessoas”.

“Não estaremos lá para agredir ninguém, mas a marcha não pode comprometer a tranquilidade e ordem públicas. Se ocorrerem situações de desordem, a polícia estará lá para chamar atenção a estas pessoas. Reiteramos o apelo para que tudo seja feito conforme a lei”, disse à Lusa o porta-voz do Comando-Geral da Polícia da República de Moçambique, Orlando Mudomane.

A iniciativa, promovida pelo partido político extraparlamentar Nova Democracia, visa exaltar, entre outros, os feitos de figuras como Eduardo Mondlane, o fundador da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), Samora Machel, primeiro Presidente do país, Afonso Dhlakama, falecido líder do principal partido de oposição (Renamo), Carlos Cardoso, jornalista morto em 2000 quando investigava uma fraude no extinto Banco Comercial de Moçambique, bem como o próprio rapper Azagaia.  

A marcha começa por volta das 08:30 locais (07:30 em Lisboa) na Estátua Eduardo Mondlane, centro de Maputo, no mesmo local onde a repressão policial violenta contra jovens que tentaram marchar em homenagem ao rapper Azagaia em Maputo ocorreu, no dia 18 de março.