Os opositores da reforma judicial em Israel manifestaram-se hoje contra a polémica medida apresentada pelo Governo de Benjamin Netanyahu, após a votação do texto na primeira apreciação no parlamento israelita.

Os organizadores deste movimento de protesto, que reúne dezenas de milhares de pessoas todas as semanas desde há meses, anunciaram o bloqueio de lugares estratégicos de norte a sul de Israel.

A polícia disse ter detido 66 manifestantes em todo o país por “perturbação da ordem pública”.

“Vim aqui porque o Governo está a destruir totalmente a democracia em Israel”, disse à agência France-Presse (AFP) Grance Eitan Galon, um médico entre os manifestantes numa estrada nos arredores de Jerusalém.

“Vamos continuar a lutar até ao fim”, acrescentou, enquanto a polícia usava canhões de água para dispersar os manifestantes.

Hoje à tarde, os manifestantes em massa também tomaram o Aeroporto Internacional Ben Gurion, em Telavive, onde agitaram bandeiras e gritaram palavras de ordem contra a reforma judicial.

Este dia de mobilização ocorre após a votação em primeira apreciação pelo Knesset, o parlamento israelita, de uma medida que visa anular a possibilidade de o sistema judiciário se pronunciar sobre “a razoabilidade” das decisões do Governo.

A medida foi aprovada durante a madrugada de segunda-feira para hoje com 64 votos favoráveis, correspondentes aos deputados da base de apoio do Governo. Os 56 deputados da oposição votaram contra.

Anunciada logo após a posse do Governo formado no início do ano por Benjamin Netanyahu, um dos mais à direita da história de Israel, a reforma judicial visa, em especial, reduzir as prerrogativas do Supremo Tribunal, que o executivo considera politizado.

Os detratores do primeiro-ministro Netanyahu acreditam que a reforma corre o risco de abrir caminho para uma deriva antiliberal ou autoritária.

Num vídeo divulgado na rede social Facebook durante os debates durante a noite, Netanyahu tentou usar palavras de tranquilidade, dizendo que o projeto de lei “não era o fim da democracia”, mas “fortaleceria a democracia”.

“Os direitos dos tribunais e cidadãos israelitas não serão prejudicados de forma alguma (…). O Supremo Tribunal continuará a analisar a legalidade das decisões e nomeações do Governo”, afirmou.

A comissão parlamentar de leis retomou na tarde de hoje os debates a propósito da medida votada em primeira leitura, de forma a apresentá-la à votação final do parlamento em data indeterminada, segundo um comunicado de imprensa.

O líder da central sindical Histadrut apelou hoje ao primeiro-ministro para “parar o caos”, insinuando que o poderoso sindicato pode pressionar o Governo se este avançar com o plano de reforma.

“Senhor primeiro-ministro, a bola está do seu lado”, disse Arnon Bar-David, numa conferência de imprensa em Telavive.

“Acabe com o caos delirante na sociedade israelita, e o mais rápido possível”, acrescentou.

“Quando eu sentir que todas as opções foram esgotadas e a situação chegou a um ponto sem retorno, vamos intervir e usar o nosso poder”, acrescentou o líder sindical, que havia anunciado em março uma greve geral alguns dias antes.

Por sua vez, o líder da oposição israelita, Yair Lapid, criticou o Governo por não cumprir as suas promessas: “Você [Netanyahu] prometeu ajudar os fracos e proteger a segurança de Israel (…), não faz nada além desta loucura”, declarou, referindo-se à reforma judicial.

No final de março, Netanyahu declarou uma pausa no processo legislativo para permitir discussões com os partidos da oposição.

Mas no final de junho, os dois principais líderes da oposição, Lapid e Benny Gantz, suspenderam a sua participação nas negociações.

O Presidente israelita, Isaac Herzog, pediu às partes que regressem à mesa de negociações que ocorre sob a sua égide desde março.

Por sua vez, numa entrevista à estação CNN transmitida no domingo passado, o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, país historicamente aliado de Israel, expressou esperança de que Netanyahu “continuará a evoluir para a moderação e a mudança”.