Expulsão de Niakaté aos 30 minutos chegou a colocar em causa o sonho dos ‘oitavos’, mas os bons ventos de Espanha adiam a decisão do apuramento para Nápoles.
Para manter vivo o sonho de chegar aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões, apenas a vitória interessava ao SC Braga. Frente ao Union Berlin, equipa alemã que derrotou fora de casa, um triunfo na Pedreira oferecia uma garantia e uma oportunidade. Por um lado, a certeza de assegurar um lugar na Liga Europa, por outro a possibilidade de levar para a última jornada, em Itália, a discussão pelo segundo lugar com o Nápoles.
No final: nem uma coisa, nem outra. O SC Braga empatou, mas a derrota do Nápoles frente ao Real Madrid mantém a chama acesa da equipa lusa, que ainda pode chegar aos ‘oitavos’ caso vença na deslocação a Nápoles por dois golos de diferença. Para garantir a Liga Europa, o empate será suficiente.
Noite fria na Pedreira com 15 855 espectadores
Nenad Bjelica assumiu na antevisão da partida querer vingar a derrota em casa frente à equipa lusa e desde cedo se percebeu que não vinha passear a Portugal. Ainda que longe da baliza de Matheus, o penúltimo classificado da Bundesliga apresentava uma equipa compacta, comprometida e muito pouco permissiva perante a habitual avalanche ofensiva do SC Braga, até então mais adormecida.
Até aos primeiros 15 minutos, o melhor que a equipa de Artur Jorge conseguiu foi a marcação de dois cantos, ambos sem perigo e na sequência de lances que nem sequer serviram para incomodar Ronnow. Enrolados por um jogo algo sonolento, os adeptos do SC Braga pediam mais, e a resposta não tardou. Um minuto depois, o guarda-redes dos alemães era colocado em sentido pelo ataque minhoto.
No primeiro lance de perigo do encontro, o capitão Ricardo Horta trabalhou bem pela esquerda para depois descobrir no centro da área Simon Banza, que esbarrou na enorme intervenção de Ronnow. O jogo mantinha-se morno, e só aos 27 minutos, num lance perigosíssimo de Álvaro Djaló, a Pedreira acordou. O avançado elevou-se muito bem, mas falhou o golpe de cabeça. A bola passou a centímetros da baliza.
O SC Braga crescia na partida, mas um balde de água fria três minutos depois complicava e muito a vida da formação portuguesa. Niakaté escorregou ao disputar a bola, derrubou Behrens, e acabou expulso após intervenção do VAR. Nas bancadas calavam-se os adeptos arsenalistas, galvanizavam-se (ainda mais) os adeptos forasteiros. O apoio chegou ao relvado, e, em superioridade numérica, os bracarenses ressentiam-se da expulsão. Aos 34 minutos, um remate de x não passou muito longe da baliza de Matheus.
Artur Jorge sentia que tinha que mexer e foi o que fez: saiu Victor Carvalho, sacrificado, para dar lugar a Serdar, lançado na Champions pela 3º vez esta época. Com a alteração de recurso, o técnico procurava equilibrar a linha defensiva dando estabilidade à equipa, mas o plano ficou-se pela intenção. Minutos depois, o Union Berlin abria o marcador na Pedreira por intermédio de Robin Gosens, que rematou dentro da área sem hipóteses para Matheus após assistência de Jérôme Roussillon.
Apesar do golo sofrido e da inferioridade numérica, o SC Braga tentava encontrar-se no jogo, e contra a corrente de jogo quase empatava a partida já perto do intervalo. Um lance confuso na área quase deu o golo à equipa portuguesa, que se queixou de uma mão na bola de Diogo Leite. O juiz Turpin nada assinalou apesar dos muitos protestos e do VAR, nem uma palavra.
Nas bancadas pediu-se penálti, e a primeira parte terminou debaixo de um coro de assobios dirigidos ao árbitro da partida.
Apagão alemão no segundo tempo e muita união… arsenalista
O segundo tempo retomou com ascendente germânico, mas foi Álvaro Djaló que fez explodir a Pedreira. Descoberto na direita por Ricardo Horta, o avançado espanhol iniciou uma corrida desenfreada até à área, só concluída com um remate à lei da bomba sem hipóteses para Ronnow. Estava feito o empate, e animavam-se as bancadas, que acreditavam numa ‘remontada’ à moda do Minho.
Motivados, e de que forma, com o golo marcado, o SC Braga lançou-se na frente com uma mão cheia de oportunidades; primeiro por Álvaro Djaló, novamente o espanhol, e depois pelo capitão, Ricardo Horta, aos 60 minutos, com um remate cruzado a rasar o poste esquerdo da baliza alemã.
Por esta altura, o SC Braga estava claramente por cima do encontro, o que motivou de imediato duas substituições do técnico do Union Berlin, visivelmente insatisfeito com a produção da equipa na segunda parte.
Já com Abel Ruiz em campo, o SC Braga continuou por cima da partida, e assim se manteve até ao final do jogo, mas sem conseguir chegar ao golo.
De olho no Bernabéu, já perto dos 90 minutos, festejou-se o golo do Real Madrid sobre o Nápoles e com justa causa. Apesar do empate desta noite, a derrota dos italianos permite adiar a discussão do apuramento para a próxima fase da Champions, com o Nápoles, em Itália.
Declarações de Artur Jorge, treinador do Sp. Braga, na sala de imprensa do Estádio Municipal de Braga, após o empate (1-1) na receção ao Union Berlim, em jogo do Grupo C da Liga dos Campeões:
«Tivemos inspiração e transpiração. Tivemos de tudo, uma grande entrega e uma grande alma para poder ter um resultado que não era o que queríamos, mas para ter mais uma exibição de grande nível nesta competição. Pelo contexto, termos ficado uma hora com um jogador a menos, mesmo assim fomos dominadores, a forma como a equipa se deu ao jogo deixa-me satisfeito, ao final de contas somamos mais um ponto».
[Sentimento como treinador após o jogo, numa boa prestação que ainda dá uma réstia de esperança] «Tinha-o dito, e o que fizemos na primeira meia hora mostra-o, que era muito importante ganhar o jogo. No contexto que tivemos era muito importante não poder. Conseguimos ter uma reação, estatisticamente com o domínio do jogo, o que é significativo, creio que dezoito oportunidades contra seis. Apesar da expulsão, que me pareceu bem ajuizado, não tendo sido intencional foi uma decisão boa, poderia falar de um penálti em que a decisão não foi boa, mas quero assinalar ao desempenho da minha equipa, principalmente quando esteve a menos, em que fomos dominadores a criar oportunidades ficamos com a sensação de que um ponto é curto para o que fizemos em casa. Queriam ganhar em casa para festejar com os nossos adeptos. Realisticamente é muito difícil, teremos pela frente um Nápoles com dois galos que teremos de reverter, tudo em aberto, mas vamos com ambição. Falta um jogo, vamos lutar como sempre pela vitória».
[Numa prestação algo inconstante esta época, o que se retira de um jogo como este?] «A avaliação da inconstância é redutora, nos últimos quinze jogos a as nossas derrotas são com o Real Madrid e com o Nápoles. Este é um daqueles jogos em que temos de tirar proveito da exibição, se tivermos a capacidade de olhar para este jogo com a humildade de perceber que foi preciso um grande sacrifício, uma grande vontade mental e física para esta exibição, podemos ganhar com isso».
[O que se diz ao Niakaté depois daquele lance?] «Nesta altura são palavras de conforto, mais do que ninguém está desolado com o que aconteceu. Não é intencional, mas altera por completo a estratégia montada e o que obriga a equipa a fazer para compensar menos um homem em campo. Temos de amparar os nossos nos momentos menos bons».
[Sorteio da Taça de Portugal] «É aquilo que é, estamos preparados para um mês de janeiro com grandes jogos, que vai incluir mais este Benfica-Braga para a Taça de Portugal».
Declarações de Nenad Bjelica, treinador do Union Berlim, na sala de imprensa do Estádio Municipal de Braga, após o empate (1-1) frente ao Sp. Braga em jogo do Grupo C da Liga dos Campeões:
«No geral foi um bom jogo, com várias hipóteses de ambos os lados, tentámos fazer os possíveis para marcar golos e para nos adaptar à estratégia do adversário. Cometemos alguns erros, que tiveram de ser colmatados, mas para além disso penso que tivemos algumas oportunidades que podíamos ter aproveitado».
[Série de jogos sem vencer] «Há situações que a equipa tem de enfrentar. Neste jogo tentámos ter posse de bola, não é fácil estar se ganhar há três meses, a motivação é menor, temos de nos motivar. Na Liga dos Campeões o nível é mais elevado, há mais desgaste para os jogadores, temos de recuperar e trabalhar para voltar às vitórias. Um passo de cada vez, com passos pequenos, vamos sair desta crise em que nos encontramos».
Declarações de Víctor Gómez, lateral direito do Sp. Braga, na zona mista do Estádio Municipal de Braga, após o empate (1-1) no embate frente ao Union Berlim, em jogo do Grupo C da Liga dos Campeões:
«Começámos muito bem até à expulsão, mas penso que a equipa terminou a primeira parte muito bem. Na segunda parte, fomos atrás do resultado, a procurar uma vitória que queríamos desde o início e merecíamos muito mais. Temos de pensar no jogo seguinte e ir com tudo. Este era um jogo para ganhar, agora vamos a Nápoles para vencer e tentar seguir para a próxima fase da Champions».
«Tivemos dezoito oportunidades e eles seis. A equipa fez um grande jogo e é difícil jogar com menos um jogador e ter tantas oportunidades. É certo que não fizemos dois golos, mas temos possibilidades de passar à próxima ronda e isso é o mais importante».
[Acreditam na passagem, em Nápoles?] «Claro que sim. Já demonstrámos neste jogo do que o Sp. Braga é capaz, com o Nápoles podíamos ter vencido, tivemos muitas oportunidades e é muito provável ir lá e lutar até ao fim».
[Expulsão do Niakaté] «Claro que estava muito triste no balneário. É normal. Ele sabia que era um jogo importante e estava triste pela expulsão. Se vencíamos com 11 jogadores? Não sei, mas da forma como iniciámos o jogo, a probabilidade era grande».