Centenas de pessoas unem-se em festa pela diversidade em resposta a protesto de extrema-direita agendado na cidade.

O largo do Intendente, coração pulsante de Lisboa, foi hoje palco de um vibrante arraial multicultural que juntou centenas de pessoas numa manifestação de solidariedade e luta contra o racismo e a xenofobia. O evento ocorreu num contexto de tensão, em resposta a um anunciado protesto de extrema-direita “contra a islamização”, marcado para o mesmo dia.

Com a presença de mais de meio milhar de participantes, o arraial foi marcado por um ambiente de celebração da diversidade, com palavras de ordem como “racistas, fascistas não passarão” e mensagens de boas-vindas a imigrantes, reafirmando a abertura e a inclusão como valores centrais da sociedade portuguesa.

António Tonga, membro do coletivo Consciência Negra, destacou o arraial como um momento de festa da multiculturalidade e um alerta contra os discursos de ódio. “Cinquenta anos após o 25 de Abril, é crucial continuarmos a lutar pelos valores de liberdade e inclusão que queremos para a nossa sociedade”, declarou Tonga, referindo-se à Revolução dos Cravos como um marco histórico de democracia e liberdade em Portugal.

O arraial contou também com a presença de figuras políticas, como Mariana Mortágua, coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), que enfatizou a importância de contrapor a minoria que propaga ódio com uma maioria que defende a decência e os direitos humanos. Mortágua relembrou a contribuição vital dos imigrantes para a economia portuguesa, nos setores da agricultura, pescas e turismo, e a necessidade de sua integração.

Entre os participantes estavam vários imigrantes, como Sanhá Fodé, estudante da Guiné-Bissau, que compartilhou suas preocupações com o crescimento de partidos de extrema-direita e o impacto negativo de discursos divisórios. Um cidadão do Bangladesh expressou sentimentos mistos sobre sua recepção em Portugal, evidenciando a persistência de desafios ao acolhimento e à integração de imigrantes.

O arraial surge como um contraponto a uma manifestação de extrema-direita, cuja realização foi inicialmente prevista para a zona da Mouraria mas acabou sendo transferida para o Largo Camões após intervenção da Câmara Municipal de Lisboa e parecer da PSP sobre riscos de segurança. O grupo de extrema-direita, conhecido como “grupo 1.143”, viu seu pedido inicial ser recusado, mas manteve a intenção de protestar, deslocando o local para evitar conflitos diretos.

Este encontro no Intendente não apenas celebra a riqueza cultural trazida pelos imigrantes a Lisboa, mas também se posiciona firmemente contra as correntes de pensamento que buscam dividir e enfraquecer a coesão social. Em um momento de crescente polarização, a iniciativa reafirma o compromisso da cidade com os valores de tolerância, respeito mútuo e coexistência pacífica.