Lanço da Cruz voltou a juntar milhares nas margens de Cristelo Covo e Sobrada, em celebração de fé, cultura e união transfronteiriça
O Lanço da Cruz, uma das mais simbólicas manifestações religiosas e culturais do Alto Minho, voltou a cumprir-se este domingo, unindo novamente as comunidades de Cristelo Covo (Valença, Portugal) e Sobrada (Tomiño, Galiza), nas margens do Rio Minho.
Este ritual pascal centenário, que integra as festividades em honra de Nossa Senhora da Cabeça, atraiu milhares de fiéis e visitantes à região, tornando a celebração num verdadeiro encontro de fé, tradição e amizade entre os povos ibéricos.
Uma cerimónia com alma e história
Pelas 16h00, os párocos de ambas as paróquias embarcaram em barcos de pesca tradicionais, transportando as Cruzes Pascais até ao meio do rio. Ali, os sacerdotes realizaram a troca e bênção das cruzes, num gesto simbólico de união entre as duas margens.
A cruz portuguesa seguiu para Sobrada, enquanto a cruz galega foi acolhida em Cristelo Covo, sendo ambas apresentadas ao beijo dos fiéis. Ao som de bombos, concertinas, gaitas de foles, castanholas e pandeiretas, a celebração ganhou um tom festivo e profundamente emotivo.
Muito mais do que um ritual religioso
A tradição do Lanço da Cruz transcende o ato litúrgico, transportando vestígios de antigos rituais pagãos associados ao culto das águas e à fertilidade. A presença dos pescadores locais, que nesta altura do ano lançam redes à procura da lampreia, reforça a ligação ancestral das gentes ao Rio Minho, fonte de sustento e identidade.
Uma ponte viva entre dois povos
Com o sol de primavera a iluminar a paisagem minhota, este momento voltou a demonstrar que, mais do que uma cerimónia religiosa, o Lanço da Cruz é um símbolo de paz, partilha e respeito mútuo entre Portugal e a Galiza.
Classificado como Património Cultural Imaterial, este ritual mantém-se vivo graças ao envolvimento das comunidades locais, que ano após ano o renovam com orgulho e devoção, passando-o de geração em geração.