Fotojornalista histórico do 25 de Abril faleceu em Lisboa aos 90 anos, deixando um legado ímpar na memória visual de Portugal

Faleceu esta quarta-feira, em Lisboa, Eduardo Gageiro, um dos mais marcantes fotojornalistas portugueses do século XX. Tinha 90 anos e encontrava-se internado no Hospital dos Capuchos, onde morreu “em paz, rodeado pela família, com todo o carinho e conforto”, segundo afirmou à agência Lusa o seu neto, Afonso Gageiro.

Gageiro foi uma figura incontornável da fotografia documental em Portugal, conhecido sobretudo pelas imagens icónicas captadas durante a Revolução do 25 de Abril de 1974. Até ao fim da sua vida, manteve lucidez e vitalidade, apesar de enfrentar uma doença prolongada.

A sua derradeira exposição, intitulada “Pela Lente da Liberdade”, foi inaugurada simbolicamente a 25 de abril deste ano, na Galeria Municipal de Torres Vedras, onde permanecerá patente até setembro. A mostra reúne parte do acervo que, no início de 2024, foi oficialmente adquirido pela autarquia.

Durante a ditadura, Gageiro captou as duras realidades do país, tendo sido várias vezes detido pela PIDE devido à natureza incómoda das suas imagens. Começou a trabalhar como empregado de escritório na Fábrica de Loiça de Sacavém, onde, entre artistas e operários, nasceu a sua vocação para o fotojornalismo.

Publicou a sua primeira fotografia com apenas 12 anos no Diário de Notícias, com destaque de primeira página. Iniciou carreira profissional no Diário Ilustrado, em 1957, e colaborou com publicações como O Século Ilustrado, Eva, Match Magazine, além da agência Associated Press. Foi também editor da revista Sábado e manteve uma carreira ativa como freelancer.

Trabalhou com instituições como a Assembleia da República, a Presidência da República, a Companhia Nacional de Bailado, e empresas internacionais como Yamaha, Cartier e Deutsche Grammophon.

Entre os inúmeros prémios e distinções, foi agraciado com o World Press Photo, em 1975, e condecorado como Comendador da Ordem do Infante D. Henrique. Recebeu ainda a Ordem de Leopoldo II, da Bélgica, e distinções de organizações de fotografia da ex-URSS, Jugoslávia, Áustria e Suíça.

Desde 2014, uma das suas imagens encontra-se em exposição permanente na Casa da História Europeia, em Bruxelas — sendo o único português com essa distinção.

Eduardo Gageiro foi, mais do que um fotógrafo, um contador visual da história de Portugal, captando com sensibilidade e coragem os momentos que moldaram o país.