Carlos Carvalhal: “Nunca houve um jogador da equipa B que me desiludisse”

Técnico destaca o valor da formação e a importância do conhecimento como chave do sucesso dos treinadores portugueses

Carlos Carvalhal foi um dos protagonistas da tarde desta sexta-feira no Portugal Football Summit, onde partilhou o palco com José Peseiro e Rui Vitória para debater as experiências internacionais e o sucesso dos treinadores portugueses no estrangeiro.

O técnico sublinhou que o “conhecimento” é o principal fator que explica o prestígio dos treinadores nacionais além-fronteiras.

“Temos um nível muito alto não só de treinadores como de preparadores físicos, fisiologistas e treinadores de guarda-redes. Em Portugal, há uma grande difusão de conhecimento — até porque os treinadores escrevem livros — e isso, aliado à competitividade, faz-nos crescer muito”, afirmou.

O “desenrasca” português

Com o humor que lhe é característico, Carvalhal destacou também o espírito prático e criativo dos portugueses, que considera uma marca cultural inconfundível.

“Nos Descobrimentos, nas caravelas espanholas e italianas ia sempre um português. Somos desenrascados e sabemos juntar pessoas. Em Inglaterra, por exemplo, tive seis multas num mês e sugeri que algumas ficassem no nome do meu adjunto Johnny Conceição. Somos diferentes”, brincou.

A importância da formação

O ex-treinador do Sp. Braga e do Celta de Vigo defendeu que não deve haver distinção entre jogadores da equipa principal e jovens da formação, lembrando o sucesso de vários talentos que treinou.

“O Sp. Braga tinha uma academia de excelência. Entre o Vitinha, o Roger e o Rodrigo Gomes, estamos a falar de 75 milhões de euros. Nunca tive um jogador da equipa B que me desiludisse — nem em Braga, nem no Rio Ave, nem no Celta. É essencial dar-lhes confiança e tratá-los como iguais.”

Carvalhal recordou ainda a estreia de Diego, jovem jogador lançado no Estádio da Luz.

“Disse-lhe que tinha total confiança nele, tal como disse aos outros. Não teve tratamento especial — e respondeu à altura.”

O futuro do treino

Na reta final da sua intervenção, Carvalhal refletiu sobre os desafios que se colocam aos treinadores modernos, nomeadamente o tempo reduzido para treinar devido ao calendário competitivo.

“O professor Vítor Frade estava 30 anos à frente do seu tempo. Hoje, temos cada vez menos tempo para treinar. O essencial será reforçar os fundamentos táticos e mexer o mínimo possível nas pernas dos jogadores, apesar da pressão dos clubes”, concluiu.

Com a experiência de quem já passou por clubes como Besiktas, Sheffield Wednesday e Sp. Braga, Carlos Carvalhal continua a afirmar-se como um dos principais pensadores do futebol português, unindo conhecimento, identidade e paixão em cada palavra.