Jornalista, empresário e político, Balsemão foi uma das figuras mais marcantes da democracia portuguesa. Tinha 87 anos e considerava o jornalismo a sua verdadeira vocação.
Francisco Pinto Balsemão morreu esta terça-feira aos 87 anos, anunciou a família. Fundador do Expresso e do grupo Impresa, que viria a lançar a SIC, o primeiro canal de televisão privada em Portugal, Balsemão foi jornalista, empresário, político e primeiro-ministro, deixando uma marca profunda na comunicação social e na vida pública portuguesa.
Apesar de ter sido deputado antes e depois do 25 de Abril, fundador do PSD — do qual era o militante número 1 — e primeiro-ministro entre 1981 e 1983, Balsemão nunca se identificou totalmente com a política. “Eu envolvi-me e apaixonei-me pelo jornalismo através de uma vocação profissional. A criação do Expresso e de outros títulos corresponde a essa vocação, como há quem escolha a medicina ou a engenharia. Eu escolhi o jornalismo”, recordou em 2023, numa entrevista ao podcast Deixar o Mundo Melhor.
“Ainda hoje me considero jornalista. Tenho carteira profissional — tenho muito orgulho em tê-la — e tem o número 18”, dizia então. “Para concretizar os meus projetos no jornalismo tornei-me empresário, agreguei capitais, sócios e aliados portugueses e estrangeiros. A política obrigou-me a ver o mundo, o país e as pessoas de outra maneira. Mas o meu percurso passa acima de tudo pelo jornalismo.”
Um pioneiro que viu o futuro chegar
Balsemão foi um dos grandes nomes do jornalismo português. Fundou o Expresso em 1973, ainda durante a ditadura, e criou um modelo de jornalismo independente e analítico que se tornaria uma referência da imprensa nacional.
Mais tarde, com a fundação da SIC, em 1992, foi pioneiro na televisão privada em Portugal, liderando a modernização dos media nacionais.
Também se destacou como professor no curso de Ciências da Comunicação da Universidade Nova de Lisboa, onde inspirou várias gerações de jornalistas. Os seus alunos recordam-no a falar, ainda no início dos anos 1990, de uma “world wide web” que poucos conseguiam imaginar, prevendo um futuro onde o jornalista teria acesso ao mundo inteiro “com um computador, uma televisão e um telefone”.
Visionário e curioso, mantinha o gosto por aprender. Em 2023 confessava ter “muita coisa para aprender — sobretudo sobre a revolução digital” e manifestava vontade de ler mais poesia e romances.
Nos últimos anos, por motivos de saúde, afastou-se gradualmente da vida pública, deixando de participar em eventos e nas reuniões do Conselho de Estado, de que fazia parte desde 2005, bem como nas comemorações dos 50 anos do PSD.
Francisco Pinto Balsemão deixa um legado incontornável, tanto no jornalismo como na política e no pensamento democrático. Foi um dos grandes construtores da liberdade de imprensa em Portugal e um homem que acreditava no poder da informação para mudar o mundo.