Legumes, sopa e fruta são os alimentos menos consumidos nas cantinas, segundo a Ordem dos Nutricionistas.

Entre 20% a 40% dos alimentos servidos nas cantinas escolares vão parar ao lixo. Um desperdício gigantesco que não se deve exclusivamente à qualidade das refeições, também traduz hábitos alimentares: legumes, sopa e fruta são os menos consumidos. Hoje celebra-se o Dia Mundial da Alimentação e, para a bastonária da Ordem dos Nutricionistas, é urgente o reforço no investimento para retirar do papel a estratégia, aprovada em 2017, para a promoção da alimentação saudável.

“Os números falam por si”, frisa Alexandra Bento, num encontro ontem em Lisboa com jornalistas: quase 60% de obesos, 40% de hipertensos e 13% de diabéticos. Nas crianças, uma em cada três tem excesso de peso e 10% são obesos. De acordo com dados da Direção-Geral da Saúde, sublinha a bastonária, metade das causas de doença e morte em Portugal “têm relação direta com a alimentação”.

“Acordámos muito tarde para este problema, com um atraso de 40 anos”, alerta, insistindo que é urgente investir-se mais na promoção da alimentação saudável. “Importa que a estratégia saia do papel com grande ritmo e intensidade.”

Alexandra Bento defende o reforço da dotação, no Orçamento do Estado para 2019, dos atuais 0,2 para 3% (valor recomendado pela OCDE) dos custos associados à saúde na prevenção da doença. Isto é, na estratégia de promoção da alimentação saudável. “É preciso gastar-se hoje para se poupar amanhã”, sublinha.

Saleiros fora das mesas

Apostar no ensino e no que se come nas escolas é fulcral para se melhorar hábitos e o caminho mais rápido para colher frutos no futuro mas a estratégia, alerta, não se pode cingir ao espaço escolar. O espaço envolvente aos estabelecimentos que, regra geral, é profícuo em “fast food e doçaria” também deve ser repensado.

O Estado deve orientar e estabelecer acordos de compromisso com os restaurantes. Por exemplo, menciona: a quantidade de sal deve ser reduzida e há equipamentos de medição que podem ser recomendados. Assim como, retirar-se os saleiros das mesas e só colocar-se após pedido dos clientes. Nas ementas, a fruta devia aparecer primeiro que os doces e ser mais barata.

A Ordem pretende que o Ministério da Educação reforce as delegações regionais da Direção-Geral de Estabelecimentos Escolares com a contratação de 25 nutricionistas para orientarem, monitorarem, definirem regras e fiscalizarem a comida servida nas cantinas, bares e máquinas de venda automática nas escolas públicas, independentemente de serem concessionadas ou de gestão direta dos estabelecimentos.

À espera de resposta
A Ordem enviou, em fevereiro, para o Ministério da Educação uma proposta para uma alimentação saudável. A bastonária aguarda, desde então, resposta a um pedido de reunião.

Revisão de manuais
Alexandra Bento considera que programas e manuais deviam ser revistos de modo a darem prioridade à alimentação saudável em vez de aos nutrientes, como atualmente.

25 processos em 2018
Desde janeiro, a ASAE fiscalizou 160 estabelecimentos de ensino, tendo sido instaurados 25 processos de contraordenação, destacando-se como principais infrações os requisitos de higiene. Dois refeitórios chegaram a ser encerrados por este motivo e reabertos após intervenção.