Talvez seja pelo nome, ou pela forma como têm sido retratados ao longo dos tempos em diversos filmes e livros. Mas a verdade é que os fetiches sexuais continuam a apresentar uma aura ‘estranha’ com um pouco de proibido.
Normalmente, os fetiches são associados a objetos, tais como roupas de cabedal, chicotes, algemas, saias colegiais ou uniformes militares. Mas há muito mais a descobrir no universo fetichista! Preparado para abrir esta caixa de Pandora?
Fetichismo vs fantasia
Um erro comum é confundir as suas fantasias com um possível fetiche. Não é um erro grave, mas como leitor MH certamente quer saber a diferença. Em termos de psicologia, “o fetichismo é o desvio do interesse sexual para alguma parte do corpo do parceiro ou objetos que possam estar intimamente ligados ao corpo humano.
Roupa interior, sapatos, peças de vestuário de seda, cabedal ou borracha são alguns deles”. Quem o aponta é Francisco Allen Gomes, médico de Psiquiatria e responsável pela consulta de Sexologia dos Hospitais da Universidade de Coimbra.
Associado a esta parafilia, existe o parcialismo “caraterizado pelos fortes impulsos sexuais e desejos intimamente excitantes relacionados em exclusivo com partes do corpo humano, tais como pés, mãos, lábios, pernas, excluindo tudo o resto”, refere. Desta forma, a atividade sexual pode ser inteiramente dedicada ao fetiche, através da masturbação enquanto interage com o objeto do fetiche (cheira, beija, esfrega); ou através da inclusão do objeto do fetiche na relação sexual – pedir à parceira que vista determinada roupa ou que nunca tire os sapatos de salto alto”. Contudo, as fantasias mais relatadas prendem-se com a satisfação sexual, onde a parceira personifica uma colegial, prostituta…
A origem dos seus desejos
O que pode parecer comum para a maioria das pessoas – um lenço de seda ou uns pés descalços – é uma autêntica fixação para outras. “O fetiche tanto pode ter origem em situações ou temores vividos na infância, bem como em transtornos de personalidade. Mas isto não significa que um fetichista tenha necessariamente um transtorno”, refere Mariagrazia Marini, psicóloga clínica.
Embora haja uma tendência para se pensar que o fetichismo seja uma particularidade específica da sexualidade perversa, “a verdade é que todas as pessoas podem apresentar alguma espécie de fetiche”. Já está a pensar no seu?
Terreno perigoso
Existem inúmeros tipos fetiches que se repartem consoante o objeto ou a parte do corpo com a qual sente prazer em fantasiar. Em busca desse mesmo prazer, “existem diversas preferências sexuais – umas mais simples e outras muito mais complexas – que dependem sempre da individualidade de cada pessoa e do prazer sexual que deseja obter”. Tal pode-se associar a situações mais comuns ou mais perversas”, explica Francisco Allen Gomes.
As fantasias sexuais mais associadas ao fetichismo repartem-se pelo sadomasoquismo; spanking (palmadas); dominação-submissão; voyeurismo; ménage a trois e outras tantas. “Quando isto se torna numa necessidade impulsiva obsessiva, quando há a dificuldade em se conter e existe o risco de invadir a privacidade, os direitos e os limites da parceira ou quando o prazer sexual é obtido somente através do objeto do fetiche, isto são sinais de que o fetiche começa a fugir ao seu controlo e tem de ter cuidado”, indica Mariagrazia Marini.
Lembre-se sempre que o sexo é bom, mas a sua liberdade nunca pode interferir na liberdade da sua parceira. Para ser bom, o prazer tem de ser mútuo.
O peso da vergonha
O desconhecido dificilmente é bem aceite. E é precisamente por isto que a sociedade insiste em rotular qualquer fetiche como algo perverso ou inapropriado. Esta forma de pensar atinge seriamente as pessoas que têm fetiches, pois vivem com a dúvida de estarem a agir de forma errada.
Qual o resultado? O prazer que poderia advir da libertação dos seus desejos sexuais é muitas vezes substituído pela enorme culpa que se vai instalar. No entanto, “o importante é ter consciência de que o fetiche pode ser saudável quando faz parte de brincadeiras e fantasias que não ultrapassam os limites de cada um. Saber equacionar a culpa e canalizar a energia sexual de forma a compartilhar o prazer com o outro é o caminho correto”, indica Mariagrazia Marini.
Será fetiche ou mera obsessão?
Se está a gostar deste tema e quer ler mais sobre o assunto, então é bem provável que esse seu desejo sexual mais contido se enquadre na categoria dos fetiches. Pode até nunca o ter revelado a ninguém nem ter tido oportunidade de o colocar em prática, mas a verdade é que há algo que ‘mexe’ consigo e com o qual você fantasia.
“Quando um simples fetiche se torna numa obsessão, transformando-se assim numa neurose, o indivíduo pode complicar a sua vida sexual. Contudo, na dosagem certa, esse fetichismo pode tornar-se num tónico nos relacionamentos amorosos. É que a revelação do mesmo poderá trazer uma mais-valia para a relação, sempre que aconteça num clima de intimidade, com cuidado e respeito conforme a aceitação da parceira”, comenta Mariagrazia Marini.
Quanto mais proibido, melhor
A maior parte dos casais só se apercebe dos fetiches um do outro após o casamento. Mas quando decidem revelar os seus desejos mais íntimos o resultado pode ser surpreendente. Ou origina a compreensão e aceitação da parceira ou gera uma raiva e desconfiança assente na ideia de nunca o ter revelado.
“O prazer sexual deve ser associado a novas iniciativas consentidas por ambos e com combinações que não impliquem transtornos a nenhum. Assim, permite ampliar a vida sexual proporcionando a liberdade erótica”, indica a psicóloga Mariagrazia Marini.
Hoje em dia a maioria dos fetiches e das fantasias podem continuar a ser considerados, no mínimo, estranhos. Mas o certo é que são apenas uma forma de a mente aumentar a proporção do prazer. E lembre-se sempre de um (enorme) pormenor: todos nós temos as nossas obsessões sexuais, por mais simples que possam parecer. E vendo melhor, se assim não fosse, será que o sexo poderia ser tão excitante?