Aviso do painel da ONU é o mais forte até agora.

As temperaturas vão aumentar mais de 1,5 graus Celsius nas próximas duas décadas, se não forem feitas reduções rápidas e drásticas dos gases com efeito de estufa. O órgão de ciência climática da ONU alerta que o clima será extremo e que as condições meteorológicas serão mais radicais nos próximos anos

Algumas das alterações climáticas são já “irreversíveis” e dentro de duas décadas é provável que as temperaturas aumentem mais de 1,5 graus Celsius — acima do limite da temperatura global definido no acordo climático de Paris. O alerta é dado pelo Painel Internacional sobre Alterações Climáticas (IPCC na sigla em inglês) numa avaliação publicada esta segunda-feira.

Todas as regiões habitadas da Terra já são afetadas pelas alterações climáticas e o relatório conclui que o limite de 1,5ºC será cumprido mesmo no melhor dos cenários nos próximos 20 anos. Eventos climáticos extremos, como ondas de calor, inundações e secas, serão mais frequentes e mais intensos à medida que o mundo for atingindo o limite de temperatura global.

Trata-se do aviso mais forte do IPCC até agora. É o sexto relatório deste tipo desde 1988 e estava em elaboração há oito anos, reunindo o trabalho de centenas de peritos e estudos de revisão por pares. O painel conclui que a atividade humana é “inequivocamente” a causa das rápidas alterações climáticas, incluindo a subida do nível das águas do mar, o derretimento do gelo polar e dos glaciares, as ondas de calor, as inundações e as secas.

Só reduções rápidas e drásticas dos gases com efeito de estufa nesta década podem evitar este tipo de rutura. Os 1,5º serão atingidos caso não existam “reduções imediatas, rápidas e em larga escala das emissões de gases com efeito de estufa”, diz o relatório do IPCC. E cada fração de um grau de aquecimento adicional pode exacerbar ainda mais a crise climática, de acordo com o painel.

António Guterres, o secretário-geral da ONU, alertou que o relatório “é um código vermelho para a humanidade. Os sinais de alarme são ensurdecedores, e as provas são irrefutáveis: as emissões de gases com efeito de estufa provenientes da queima de combustíveis fósseis e da desflorestação estão a sufocar o nosso planeta e a colocar milhares de milhões de pessoas em risco imediato”.

A avaliação científica diz que a taxa de aquecimento nos últimos 2000 anos tem sido “sem precedentes” e que a influência humana “inequívoca” já é responsável por 1,1 graus do aquecimento global desde 1850.

Este relatório deve soar como uma sentença de morte para o carvão e os combustíveis fósseis, antes que eles destruam o nosso planeta”, disse ainda Guterres, numa declaração publicada na página da ONU esta segunda-feira.

Nos termos do Acordo de Paris de 2015, mais de 190 governos concordaram que o mundo deveria limitar o aquecimento global a 2ºC ou idealmente 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais.