Ani Dabó, a militar que morreu na praia de Póvoa de Varzim, revelou os abusos sexuais de que foi vítima aquando do exercício de funções no Centro de Tiro de Alcochete. Até levou o caso para tribunal, mas acabou por não expor a situação.

Ani Dabó, a militar que morreu em novembro, depois de ter sido arrastada pelas águas do mar na praia da Lagoa, Póvoa de Varzim, era vítima de abusos sexuais no quartel em que exercia. A jovem deixou as revelações escritas num diário improvisado, avança o “Correio da Manhã”.

A militar prestava serviços no Centro de Tiro de Alcochete da Força Aérea, quando foi violada no quartel, aos 19 anos. “A primeira coisa que ouvi foi: ‘bem feita!'”, escreveu Ani no diário improvisado, com folhas com a insígnia das Forças Armadas, a que o “CM” teve acesso.

Depois, continua o seu relato, dizendo que não se lembrava do sucedido. “Não me lembro do que aconteceu, mas o meu corpo denunciou que alguém tinha tido relações sexuais comigo. Só soube disto quando acordei”, aponta a jovem. “Acusei fadiga, sujidade sexual e acordei como nasci, nua. Havia uns boxers no chão e as minhas cuecas estavam para baixo”, escreveu no diário, tal como escreve a mesma publicação.

“E agora eu pergunto: e se fosse a tua filha, mãe e irmã que estivesse a trabalhar num sítio cheio de homens? E se de vez em quando gostasse de se divertir, e um dia um canalha entrasse no seu espaço e abusasse dela?”, questionava Ani Dabó, ao relatar a situação dolorosa por que passava.

Tendo este episódio em conta, a jovem ainda tentou ripostar. Por isso, arranjou um advogado oficioso que aceitou defendê-la sem qualquer custo. Durante anos, manteve-se convicta em relação ao seu testemunho, que foi corroborado por exames físicos que detetaram o abuso e até sabia quem era o abusador. No entanto, em julgamento, acabou por não conseguir expor a situação.

Dias depois, escreveu no diário: “Cresci e cometi um erro. Um erro”. Já em tribunal, disse que “se calhar até quis”. Esta quinta-feira, 15 de dezembro, o Tribunal da Relação de Évora decide o processo.

Ani Dabó morreu no dia 25 de novembro deste ano. Juntamente com uns colegas da Escola Prática dos Serviços do Exército, que estavam num bar da praia, terão decidido aproximar-se do mar, acabando por ser arrastados. Todos saíram pelo próprio pé da água, menos Ani Dabó, cujo corpo acabou por ser encontrado algumas horas depois.