As autoridades administrativas e policiais de Mayotte, território ultramarino francês no canal de Moçambique, iniciou hoje a demolição de um dos maiores bairros de lata do arquipélago.

Para as associações de defesa de direitos humanos, trata-se de uma operação “brutal” contra as pessoas pobres e que viola os direitos dos migrantes – sobretudo originários das Comores – que vivem nos bairros de lata de Mayotte.

De acordo com Paris nos próximos meses devem ser demolidas “milhares de barracas” em Mayotte. 

A primeira fase dos trabalhos de demolição, que começaram durante a madrugada, estão a decorrer sob a supervisão da contestada operação de segurança “Wuambushu” e está localizada na zona de Koungou, norte da ilha Grand-Terre (Maore).

“Em Mayotte, esta manhã, a vontade política está a dar frutos: continuamos a destruição dos bairros de lata, onde muitas famílias viviam em condições indignas, propondo realojamentos”, afirmou o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, através da rede social Twitter.

As autoridades francesas enviaram desde o passado mês de abril centenas de polícias para Mayotte para levar a cabo uma série de intervenções, conhecidas como “Wuambushu” (“Tomada de Posse”).

De acordo com as autoridades, a operação tem por objetivo reduzir as habitações degradadas, lutar contra a delinquência e “expulsar os imigrantes irregulares”, na maioria provenientes do arquipélago das Comores, no Índico, vizinho do arquipélago de Mayotte.

Prevista inicialmente para o dia 25 de abril, a demolição do bairro Talus 2 foi suspensa pelo Tribunal Administrativo de Mayotte, tendo as últimas duas decisões judiciais dado razão ao Estado.

Segundo a France Presse (AFP), as policias, munidas de vários instrumentos, entraram nas casas para verificar se não havia habitantes no interior, depois de o abastecimento de eletricidade e de água ter sido cortado.

A demolição do bairro Talus 2, mobiliza diretamente cerca de 200 pessoas, das quais 150 polícias, e “deve prolongar-se durante toda a semana”, disse à AFP Psylvia Dewas, responsável pelo realojamento da autarquia.

Os serviços do Estado contabilizaram “162 barracas” que têm de ser demolidas no “bairro de lata”, disse o presidente da Câmara Thierry Suquet.

“Podemos afirmar que metade das famílias que vivem nesta zona já foram realojadas”, acrescentou referindo-se à primeira fase da operação de demolição.

Dos cerca de 350 mil habitantes de Mayotte, metade não tem nacionalidade francesa e “apenas um terço” dos habitantes dos bairros de lata possui documentação da administração ultramarina francesa.

A operação tem sido marcada por tensões políticas entre Paris e a sociedade civil de Mayotte e levou à suspensão da ligação marítima entre o território e a ilha Anjouan, nas Comores, durante quase três semanas.

A França tomou posse como colónia as duas ilhas que constituem Mayotte em 1841, após a perda de poder do sultão Andriantsoly, tendo repovoado o arquipélago com populações das Comores e de Madagáscar.