Mariana Mortágua critica aposta no setor da Defesa e vê sinais de inspiração liberal nas escolhas do executivo
A coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, denunciou esta sexta-feira o que considera ser uma “clara viragem à direita” no novo Governo liderado por Luís Montenegro, alertando que essa orientação poderá traduzir-se em cortes nas despesas sociais, em benefício de um aumento do investimento militar.
“Como em todos os países que estão a virar à direita, esta opção vem acompanhada de uma receita conhecida: cortar na despesa social e aumentar as despesas militares”, afirmou a líder bloquista em declarações aos jornalistas na Assembleia da República.
Mortágua reagia ao anúncio feito por Montenegro na cerimónia de posse do XXV Governo Constitucional, onde o primeiro-ministro garantiu que Portugal pretende antecipar o cumprimento do objetivo da NATO de investir 2% do PIB em Defesa, “se possível já este ano”, sem comprometer as “contas certas” ou as funções sociais do Estado.
Para a dirigente do BE, essa promessa está longe de ser inócua: “Temos o secretário-geral da NATO a exigir 5% dos orçamentos para armamento. Isto não se faz sem cortar em saúde, segurança social e tudo aquilo de que uma sociedade precisa para funcionar”, frisou.
Mariana Mortágua não poupou críticas à nova orgânica governativa, destacando a criação do Ministério da Reforma do Estado como um sinal preocupante de orientação ideológica. “É uma inspiração liberal dos piores exemplos dos Estados Unidos ou da Argentina”, afirmou.
A líder bloquista apontou ainda a escolha de Maria Lúcia Amaral para a pasta da Administração Interna como “um mau sinal”, sublinhando que, enquanto Provedora de Justiça, a nova ministra pediu a fiscalização constitucional da norma que impedia o aumento das rendas durante um período de crise habitacional. “Esta não é uma escolha inocente”, alertou.
A extinção de um ministério autónomo da Cultura foi outro dos pontos criticados pelo BE, que vê nesta decisão uma desvalorização da área cultural por parte do novo executivo.