Maioria dos trabalhadores são espanhóis e atravessam a fronteira durante a semana. Autarca de Ribeira de Pena recebe apelos desesperados de trabalhadores e pede suspensão das obras. Iberdrola garante que que está a ser cumprido o plano de contingência.

À caixa de correio eletrónico do presidente da Câmara Municipal de Ribeira de Pena têm chegado autênticos gritos de desespero por parte de alguns trabalhadores da barragem de Daivões. A obra faz parte do Sistema Eletroprodutor do Tâmega, complexo formado por três barragens e três centrais hidroelétricas, a cargo Iberdrola. Em resposta à Renascença, a elétrica espanhola garante que está a ser cumprido o plano de contingência determinado e “está atenta, sensível e reativa a todos os eventos e desenvolvimentos relacionados com esta pandemia”.

A empresa acrescenta que “até ao momento atual não existe nenhum caso positivo de Covid-19” registado no empreendimento. No entanto, isso não retrai a preocupação de trablhadores, autarcas e populações, como registou a Renascença numa visita à barragem de Daivões, no concelho de Ribeira de Pena.

No empreendimento trabalham “cerca de 1.800 trabalhadores, a maioria espanhóis e de diferentes pontos do nosso país”, sendo que “à volta de 370 pessoas são de Ribeira de Pena e de municípios limítrofes”. Os trabalhadores temem pela sua própria saúde e pela dos seus familiares e, tal como a autarquia, reclamam a paragem imediata das obras, como forma de prevenir a propagação da Covid-19.

“Estas barragens têm ‘timings’, é verdade, e é uma obra importantíssima para o país, é umas das maiores obras neste momento, a nível europeu. Mas a verdade é que trabalham aqui centenas e centenas de trabalhadores, não conhecemos as proveniência dos mesmos, mas sabemos que a grande maioria deles são espanhóis e de zonas onde se abateu a tragédia e nós não queremos importar essa tragédia para Ribeira de Pena e consequentemente para Portugal”, afirma o presidente da autarquia.

No empreendimento trabalham “cerca de 1.800 trabalhadores, a maioria espanhóis e de diferentes pontos do nosso país”, sendo que “à volta de 370 pessoas são de Ribeira de Pena e de municípios limítrofes”.

“Não existem condições de segurança que previnam a transmissão do vírus”

Numa das mensagens a que a Renascença teve acesso, o trabalhador de um subempreiteiro conta que se apresenta “diariamente ao serviço, aterrorizado”, sem saber se já contraiu o vírus e se já contaminou a família.

“Estamos a falar de um conjunto de obras em que a larga maioria dos trabalhadores são de nacionalidade espanhola. Como sabe, estes encontram-se a passar a fronteira entre os dois países todas as semanas, sem efetuarem nenhum despiste de sintomas. Isto representa um elevado risco de importação do vírus”, lê-se no email enviado ao presidente da Câmara.

O trabalhador fala nos colegas que prestam serviço nas “obras das barragens, mas também nas ETAR´s, pois os estaleiros são partilhados” e denuncia a falta de medidas de segurança.

De acordo com este trabalhador, “algumas empresas envolvidas já elaboraram e publicaram planos de contingência e de proteção, mas estes planos ficaram no papel e não chegaram ao terreno”.

“Nas obras em questão não existem condições de segurança que previnam a transmissão do vírus. Dada a natureza das funções, não é possível cumprir com as distâncias de segurança e em muitas frentes da obra, ainda não chegaram indicações, nem elementos de proteção como máscaras e desinfetantes para as mãos, nem os locais se encontram a ser desinfetados”, denuncia.

No email dirigido ao presidente da Câmara de Ribeira de Pena é dito, por exemplo, que “há uma empresa que ofereceu uma máscara a cada trabalhador, indicando que seria para toda a semana de trabalho”.

“Eu tenho feito as minhas refeições no meu automóvel”

Mas há mais. Segundo este trabalhador, “devido ao encerramento dos restaurantes os trabalhadores recebem as suas refeições em ‘take-away’ e são obrigados a consumir em refeitórios/contentores com dezenas ou até centenas de outros trabalhadores”.

“Eu tenho feito as minhas refeições no meu automóvel”, escreve na mensagem dirigida ao autarca.

São relatos como este que impelem o presidente de Ribeira de Pena a agir e a insistir com as “entidades competentes” a decidirem o “quanto antes parar as obras”.

Iberdrola garante que está a ser cumprido plano de contingência nas barragens do Tâmega

Renascença confrontou a Iberdrola com a reivindicação da autarquia e da própria população de Ribeira de Pena em suspender as obras, justificando a medida com a presença de um elevado número de trabalhadores estrangeiros, nomeadamente espanhóis, que trabalham na obra e ao fim de semana vão a casa.

A eléctrica dá conta de que “está atenta, sensível e reativa a todos os eventos e desenvolvimentos relacionados com esta pandemia” e, nesse sentido, garante, “tem atuado no estrito cumprimento de todas as orientações emanadas pelas Entidades Públicas competentes, na sequência e em concretização da declaração do estado de emergência Nacional determinada a coberto do Decreto do Presidente da República n.º 14-A/2020, de 18 de março”.

A Iberdrola recorda ainda que a declaração do estado de emergência refere “que os operadores e demais intervenientes económicos deverão prosseguir, respeitando as contingências e restrições que são publicamente conhecidas, com o desenvolvimento da atividade económica dentro da possível normalidade, sempre que estejam garantidos o cumprimento e a concretização das medidas de prevenção de segurança e saúde, determinadas pelas Autoridades de Saúde competentes”.

A empresa espanhola garante que o seu plano de contingência, para fazer face à pandemia no âmbito das obras do Sistema Electroprodutor do Tâmega (SET), está em linha com as diretrizes da DGS, da Organização Mundial de Saúde e do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças.

“Cada uma das empresas contratadas para executar a obra preparou, simultaneamente, um plano de contingência semelhante. Existe uma coordenação diária entre a Iberdrola e as ditas entidades executantes, a fim de se garantirem as condições de segurança dos colaboradores”, afirma a elétrica espanhola em resposta à Renascença, acrescentando que“até ao momento atual não existe nenhum caso positivo de Covid-19” registado no empreendimento.