A eurocidade de Valença, no distrito de Viana do Castelo, e Tui, na Galiza, vão investir 30 mil euros em duas edições da feira profissional de música e cultura MUMi – Músicas no Minho, esperando um retorno económico de 120 mil euros.

“O retorno económico estimado nas duas edições é de cerca de 120 mil euros com a realização de 60 de eventos, sendo que o investimento de 30 mil euros, será dividido pelas duas cidades”, afirmou hoje o autarca de Tui, Enrique Cabaleiro González, durante a apresentação da edição 2021 do MUMi – Músicas no Minho.

Questionado pela agência Lusa, sobre a iniciativa apresentada em conferência de imprensa, realizada no arquivo municipal de Valença, o autarca adiantou estar “previsto um crescimento anual de cerca 15%” do retorno, o que permitirá, “num horizonte de cinco anos, atingir os 300 mil euros”.

“O MUMI tornar-se-á na feira musical de referência do oeste da Península Ibérica”, sustentou.

A edição de 2021 vai decorrer entre 09 e 11 de setembro, e reunirá profissionais do setor musical e cultural português e galego.

“Na história dos eventos promovidos pela eurocidade Tui e Valença este será o mais relevante que já foi realizado (…). Não há nenhum lugar geográfico melhor para a realização deste evento(…) Sobretudo num momento em que, depois da pandemia de covid-19, a cultura retrocedeu quase 40 anos. Estamos a viver um cenário muito complicado e muito difícil”, afirmou Enrique Cabaleiro González.

O autarca de Tui enfatizou o facto de poder voltar a estar em Valença, e manifestou a esperança de que “não volte a repetir-se o encerramento das fronteiras entre os dois países”, e que os Governos dos dois países “tenham aprendido a resolver os problemas de outra maneira”.

“Se calhar, somos a única fronteira de caráter urbano da Europa Ocidental. Antes da pandemia de covid-19, cruzavam a ponte velha entre Valença e Tui, 4.500 veículos por dia, o que mostra a magnitude das relações, obviamente prioritariamente comerciais, mas também sociais e culturais entre os dois povos”.

Para Cabaleiro, aquele dado é “demonstrativo da magnitude e da singularidade” daquele território, considerando que permitem “entender as relações entre a Galiza e o Norte de Portugal”.

“Estou convencido de que o futuro da Galiza está em Portugal e que grande parte do futuro de Portugal está na Galiza”, reforçou.

Também o presidente da Câmara de Valença, Manuel Lopes, destacou a “coragem e determinação” da organização por avançar com o “embrião” de um evento que vai ser “sucesso” nos próximos anos.

“Estamos sedentos, ávidos de espetáculos, de música. Não é a mesma coisa estar ‘online’”, atirou o social-democrata.

“Nós os minhotos e galegos sem espetáculos e sem música não conseguimos vivemos (…) Os galegos com uma pandeireta e uma gaita de foles fazem a festa. É uma alegria”, reforçou o autarca português.

Manuel Lopes disse não ter dúvidas do retorno financeiro que os três dias do evento vai representar os dois municípios vizinhos.

O autarca destacou que, antes da pandemia, “Valença tinha uma média de dois milhões de visitantes por ano, sendo que “só dentro da fortaleza chegavam a estar 12 mil pessoas”.

“Somos raianos com muito gosto. Nunca precisámos do Tratado de Schengen. Só demos valor a esse tratado quando nos fecharam as fronteiras (…) Somos o mesmo povo”, disse.

O programa do primeiro mercado profissional de música e cultura, organizado por “10 a 12 associações de artistas portugueses e galegos”, inclui “a realização de 60 eventos culturais” nos dois concelhos que compõem a eurocidade de Valença e Tui.

“Neste momento, é muito importante fazermos este MUMi em Valença e Tui, já com o compromisso de duas edições, 2021 e 2022, porque, de certa forma, vai ajudar à retoma do setor, e acaba por ser um alento para todos os envolvidos”, referiu César Cardoso, do MUMi Portugal.

Também Manuel Roxo Vicente, do MUMi da Galiza, afirmou que o evento será o “epicentro da música e da cultura galega e portuguesa, num local de referência que vai chamar não só o público de Tui e Valença, mas todos os profissionais do Norte de Portugal e da Galiza”.

“Contamos que, na edição 2022, o MUMi chegue ao Porto, a Lisboa e ao sul de Portugal. Estamos a abrir um espaço novo, num lugar único que quer ser uma janela, uma montra para que a cultura no momento de pandemia, quando está praticamente paralisada, tenha novos horizontes”, sublinhou o responsável galego.

O MUMi – Músicas no Minho “vai reunir artistas e bandas, promotoras, empresas de ‘management’, festivais, editoras, empresas de serviços e produção, para partilhar ideias, criar sinergias sólidas, estabelecer novas redes de contactos e conhecer novas propostas”.

“Vai ser um ponto de encontro para os profissionais do setor que, por fim, podem criar uma relação estável, anual”, reforçou Manuel Roxo Vicente.

A feira “incluirá atividades de formação [técnica, jurídica, ‘marketing’], ‘speedmeetings’ [encontros rápidos] entre profissionais do setor, ‘showcases’ com a seleção de artistas e bandas da Galiza e Portugal, e uma feira setorial com a presença das empresas das diferentes áreas”.

Também “haverá concertos abertos ao público em geral com a seleção de propostas musicais de diversos estilos e formatos, numa programação que demonstrará os novos valores e as figuras já consagradas em espetáculos multidisciplinares para o público familiar e adulto”.

A eurocidade Valença e Tui, separadas por apenas 400 metros, foi formalmente constituída em fevereiro de 2012.

Além da centenária ponte Eiffel, que percorre os 400 metros que separam as duas cidades, são ainda servidas por uma ponte internacional, que lidera o tráfego rodoviário diário entre os dois países com 15.741 veículos.