Jovem, de 17 anos, encontra-se internada no Hospital de Faro. Está “algo prostrada”, mas “bem” e “estável”, adiantou hoje Horácio Guerreiro, diretor clínico do Hospital de Faro.
passado domingo ficou marcado pelo resgate de Érica, uma jovem de 17 anos, que esteve à deriva no mar durante mais de 20 horas – após ter desaparecido enquanto praticava paddle, empurrada pelo vento, no final da tarde de sábado. Aconteceu ao largo da Praia do Coelho, em Monte Gordo, no Algarve.
Depois de ter sido avistada por um navio mercante, a jovem foi retirada das águas e encaminhada para Tânger, em Marrocos, para onde a embarcação se dirigia. Posteriormente, voltou de novo a Portugal, tendo sido encaminhada para o Hospital de Faro.
Horácio Guerreiro, diretor clínico da unidade, fez, no início da manhã desta segunda-feira, um ponto de situação sobre o estado da saúde da jovem. “Está algo prostrada, como é natural, depois de tanto tempo sem alimentação, exposta ao sol e com o stress”, adiantou o responsável, acrescentando que Érica “está bem, está estável, não está desidratada”.
“Tem manifestações só de prostração, um pouco sonolenta, algumas dores a nível muscular. Está numa fase de hidratação, de retoma das suas funções físicas e biológicas“, asseverou, vincando “que a evolução será muito favorável”.
Érica “está acompanhada pela mãe” e, apesar de ainda não ser possível perceber quando “poderá ter alta”, Horácio Guerreiro apontou que tal poderá acontecer em “24, 48 horas, provavelmente, se tudo correr bem.” “Está muito calma, não está muito comunicativa, mas ela é uma resistente, muito tranquila.”
E, nas palavras do clínico, este é um caso que “surpreende” todos – médicos e não só. “Com tanto tempo no mar, em condições, penso eu, de stress máximo, é normal que seja surpreendente para todos. É preciso um instinto de sobrevivência, um autocontrolo, não entrar em pânico. Esta miúda é uma heroína, sem dúvida nenhuma“, concluiu.
Embarcações já chegaram à noite, portanto já não tinham visibilidade
O desaparecimento e o início das buscas
Érica praticava paddle quando desapareceu e, de acordo com o relato do Capitão do Porto de Vila Real de Santo António, João Afonso Martins, que coordenou as buscas, o vento soprava de norte e a jovem terá entrado “numa espécie de pânico/susto e não remou”, o que fez com que “o vento lhe pegasse e ela começasse a deslocar para sul”.
Em declarações à Lusa, no dia do desaparecimento, o capitão afirmou que “o pai ainda tentou e saltou para a água, mas infelizmente não conseguiu agarrá-la, não teve capacidade física para chegar à prancha”.
O responsável explicou ainda que durante as primeiras horas da operação, iniciada cerca das 20h30 de sábado, estiveram envolvidos 20 operacionais em sete meios dentro de água, assim como um helicóptero pesado da Força Aérea, uma lancha de socorros a náufragos de Espanha e outros meios da GNR e Proteção Civil, entre outros.
Os primeiros a chegar ao local foram duas embarcações semirrígidas, uma da estação salva-vidas e outra da Polícia Marítima de Vila Real de Santo António, que chegaram ao local em cerca de 25 minutos. “Mas, infelizmente, essas embarcações já chegaram à noite, portanto já não tinham visibilidade“, afirmou, acrescentando que “também não havia Lua, que só nasceu, em quarto minguante, às 04h00”.
Em seguida, foram chegando mais meios, entre eles um navio de patrulha costeiro com oito homens a bordo e um helicóptero da Força Aérea.
O ‘milagre’ no domingo
Durante a tarde de domingo, o perímetro de buscas foi alargado em cerca de 37 quilómetros, desde a ilha Cristina, em Espanha, até Faro. Cerca das 17 horas, o ‘milagre’ aconteceu: Érica foi encontrada com vida por um navio mercante.
Foram os marinheiros a bordo de “um navio mercante” a “sul de Vila Real de Santo António”, ainda em águas portuguesas, que avistaram a jovem. Ainda estava em cima da prancha ainda, de biquíni, e em estado elevado de hipotermia, explicou João Afonso Martins em conferência de imprensa, este domingo à tarde.
Érica estava “em elevado estado de hipotermia”, avançou também, relembrando que a jovem “esteve apenas com um biquíni a noite inteira na água, com muito vento e frio”.
“Respondeu pelo nome, disse de onde era, está bem”, disse, acrescentando que Érica seria então transportada pelo navio até ao porto de Tânger e de lá transportada de helicóptero para o Algarve, onde deveria chegar pouco depois das 19 horas.
O comandante revelou ainda que os pais foram os primeiros a serem informados da feliz notícia e “a reação [foi a] de um pai que viu a filha nascer pela segunda vez”.
Por fim, o capitão João Afonso Martins agradeceu a todos os meios envolvidos nesta operação e deixou um alerta aos cidadãos: “O mar ainda não está para brincadeiras, ainda não estamos no verão em termos de mar, as correntes repetem-se, o mar ainda é um mar de inverno, temos visto a Autoridade Marítima a repetir isto, hoje correu bem, vamos não repetir a história”, concluiu.