A presidência de António Costa no Conselho Europeu tem sido marcada pelo conflito na Ucrânia, pelo aumento da tensão entre a União Europeia e os Estados Unidos após a entrada de Donald Trump na Casa Branca e pelo reforço do orçamento europeu para a defesa. Nos seus primeiros 100 dias no cargo, o ex-primeiro-ministro português procurou afirmar a unidade da Europa face às ameaças externas e fortalecer as relações com parceiros estratégicos.

Desde o primeiro dia no cargo, António Costa escolheu a Ucrânia como símbolo da sua liderança. A 1 de dezembro de 2024, esteve em Kiev para reforçar o apoio europeu ao país invadido pela Rússia, garantindo ao presidente Volodymyr Zelensky um “futuro comum” na União Europeia. Dois meses depois, regressou para assinalar o terceiro aniversário da guerra e reiterar o compromisso europeu em apoiar financeiramente e militarmente a Ucrânia.

A nova realidade geopolítica

A chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, a 20 de janeiro, trouxe novos desafios à Europa. Desde então, a Casa Branca tem endurecido a sua posição em relação à Ucrânia, interrompendo o apoio militar e pressionando Zelensky por um acordo sobre matérias-primas estratégicas. Em resposta, a União Europeia tem reforçado o financiamento à defesa e aprovado um orçamento de 800 mil milhões de euros para garantir a sua segurança.

Na última cimeira europeia, Zelensky agradeceu à UE por não deixar a Ucrânia isolada, enquanto Emmanuel Macron tem assumido um papel central na resposta europeia à nova postura de Trump. O presidente francês esteve em Washington para discutir a segurança da Europa e reforçou a posição de França como potência nuclear dissuasora.

Até agora, António Costa não teve encontros de alto nível com responsáveis da administração Trump, embora tenha se reunido com Keith Kellogg, enviado especial do presidente norte-americano para a Ucrânia e a Rússia. Sobre as crescentes tensões comerciais entre EUA e UE, Costa adotou um tom conciliador, defendendo que “entre amigos podem surgir problemas”, mas que o diálogo deve prevalecer.

O reforço das relações com África e a Ásia Central

Além da guerra na Ucrânia e das relações transatlânticas, António Costa tem dado prioridade à cooperação com países africanos. Já realizou encontros com líderes como João Lourenço, de Angola, e Umaro Sissoco Embaló, da Guiné-Bissau, e prepara-se para a cimeira UE-África do Sul, que ocorrerá esta semana.

A agenda do presidente do Conselho Europeu inclui ainda a primeira cimeira UE-Ásia Central, em abril, no Uzbequistão. Desde o início do mandato, Costa visitou vários Estados-membros, como Polónia e Hungria, além de países candidatos à União Europeia, como a Moldova. No início do mês, representou a UE na cimeira extraordinária da Liga Árabe sobre Gaza e recebeu o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau.

Ao longo dos primeiros 100 dias, António Costa tem trabalhado para garantir a unidade do Conselho Europeu, estreitando laços com a Comissão Europeia e o Parlamento Europeu, através de reuniões frequentes com Ursula von der Leyen e Roberta Metsola. A sua liderança enfrenta agora o teste de manter a coesão europeia num cenário global cada vez mais incerto.