O Niagara College, em Ontário, abriu recentemente um curso de formação em produção comercial de cannabis. Com a legalização do consumo de cannabis para fins recreativos no Canadá, o mercado precisa de profissionais especializados. O negócio pode gerar receitas entre os 750 milhões a mil milhões de euros anuais.
Têm aulas dentro de contentores transformados em laboratórios e aprendem que cuidar de uma planta cannabis não é assim tão diferente de cuidar de crisântemos ou de tomate. Para os 24 alunos do curso de “Produção Comercial de Cannabis” do Niagara College, em Ontário, há um mercado de trabalho em crescimento que já está à espera deles. “Os produtores licenciados já estão a fazer fila para empregar os nossos alunos”, avançou à Reuters o coordenador do curso, Bill MacDonald. A partir de 17 de Outubro, o Canadá torna-se o segundo país a permitir o consumo de cannabis para fins recreativos (depois do Uruguai), com legislação que terá maior impacto económico do que social. Estima-se que o negócio possa gerar entre 750 milhões a mil milhões de euros anuais, de acordo com as contas do Governo federal citadas pela agência France Presse. Os empresários estão optimistas quanto ao negócio que se abrirá com a nova lei.
Antes da comercialização, há que pensar na produção. Nos contentores do Niagara College, protegidos no exterior por vedações, os alunos, vestidos com batas brancas, apendem a irrigar, alimentar, proteger e monotorizar as plantas de cannabis – que, de resto, servem apenas para fins educativos, já que serão destruídas no final do curso. “Também aprendem a vertente do negócio”, explicou Bill MacDonald à Reuters. “Se um dia quiserem investir numa plantação, quanto é que isso lhes vai custar? De quantos trabalhadores vão precisar?”
Em Junho, o senado canadiano aprovou, por 52 votos a favor e 29 contra, a suspensão da proibição do uso recreativo de cannabis que vigorava desde 1923. Na altura, o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, publicou no Twitter: “É muito fácil para os nossos filhos obter marijuana e para os criminosos colherem os lucros. Hoje, mudámos isso”. A expectativa é a de que a legalização do consumo ajude a reduzir o crime associado ao tráfico.
Em Portugal, o Parlamento aprovou a 15 de Junho a utilização de cannabis para fins medicinais, apenas quando as terapêuticas convencionais tenham efeitos adversos ou indesejados. O Canadá tem vindo a fazer, desde 1972, um longo trajecto em direcção à descriminalização da posse de cannabis. Em 2000, o Supremo Tribunal já tinha permitido o consumo para fins medicinais. Agora, o Governo federal vai permitir legislação específica para que cada governo provincial possa definir a idade mínima para a sua compra (sempre a partir dos 18 anos, podendo ir aos 19 anos, que é a idade mínima para o consumo de álcool), bem como se a cannabis pode ser comprado em lojas privadas, ou apenas em estabelecimentos geridos pelo Estado. Os residentes no Canadá poderão comprar cannabis pela Internet e através de portais administrados pelas autoridades de cada Província.