A Concelhia de Braga do PS acusa a direção nacional do partido de “processo nebuloso” na escolha do candidato às autárquicas. O deputado Hugo Pires foi a escolha, mas concelhia indicou outros nomes.
A Concelhia de Braga do PS acusou a direção nacional do partido de “amesquinhar” os órgãos locais e de “incumprimento claro e ostensivo” dos estatutos do partido no processo de escolha do candidato àquela Câmara.
Em carta aprovada, por maioria, em reunião que decorreu na segunda-feira e a que a Lusa teve acesso esta quarta-feira, a Concelhia, liderada por Artur Feio, alude ainda a um processo “nebuloso”, que acabaria com a escolha, pelos órgãos nacionais do partido, do deputado Hugo Pires.
A carta, enviada ao secretário-geral Adjunto, José Luís Carneiro, e à secretária nacional para as autarquias, Maria da Luz Rosinha, acusa também a direção nacional de ter avocado o processo de escolha do candidato a Braga de forma “unilateral e prepotente”.
“De todo este nebuloso processo, facilmente se conclui que desde o início prevaleceu a vontade de avocar a designação do candidato à Câmara Municipal de Braga”, lê-se na carta. Para a Concelhia de Braga, “a factualidade dos acontecimentos explica cabalmente a repulsa dos órgãos locais que foram de novo amesquinhados por uma direção nacional que não os quis ouvir, optando por uma atitude de incumprimento claro e ostensivo dos estatutos”.
A Comissão Permanente do PS indicou Hugo Pires como candidato à Câmara de Braga nas autárquicas de 2021. O presidente da Concelhia, Artur Feio, também tinha manifestado publicamente disponibilidade para entrar na corrida.
A indicação do nome de Hugo Pires consta de uma carta datada de 05 de março, assinada por José Luís Carneiro e por Maria da Luz Rosinha, e enviada ao presidente da Federação Distrital de Braga, Joaquim Barreto.
Na carta, é explicado que a escolha do candidato resultou de uma sondagem. O documento refere que, no caso das sedes de distrito, foi decidido adotar um “procedimento partilhado” de designação do candidato, concluindo-se com a validação da direção nacional.
“Neste quadro de procedimentos inerentes a uma designação articulada entre as estruturas, foi aceite como metodologia de designação do candidato a presidente de câmara a realização de uma sondagem onde vários nomes seriam avaliados, indicados neste âmbito pelos diversos níveis intervenientes, apurando-se o candidato através da avaliação política na seleção dos nomes e do resultado do estudo a realizar, num processo partilhado”, acrescenta.
Em 28 de outubro de 2020, reuniram representantes dos três níveis (concelhio, distrital e nacional) dos órgãos do PS e discutiram e definiram os nomes a constar na sondagem para candidato a Braga. Artur Feio sugeriu o seu próprio nome e o da vereadora Liliana Matos Pereira. O presidente da Federação, Joaquim Barreto, sugeriu a inclusão da deputada Palmira Maciel.
A direção nacional apontou Hugo Pires, secretário nacional para a Organização do PS e antigo vereador em Braga, que acabou por ser o mais votado e, consequentemente, o escolhido. Agora, a Concelhia alega que aquela sondagem “foi apresentada como mais um instrumento de trabalho e nunca como a peça que determinaria uma decisão”.
Diz ainda que o partido terá feito convites, à revelia da Concelhia, a algumas personalidades públicas, entre as quais um membro do Governo, mas os convites terão sido declinados.
A Concelhia denuncia, assim, que “a postura de ignorar os órgãos concelhios, apresentando-lhes o facto consumado, é uma tendência cada vez mais recorrente”.
Por tudo isto, a Concelhia de Braga manifesta “repúdio e enorme preocupação pela postura arrogante” com que a direção nacional conduziu “de forma irregular” a avocação da indicação do candidato à Câmara local.
Sublinha que em causa está o processo e não o nome do candidato escolhido. A carta “dividiu” a Concelhia, tendo merecido 33 votos a favor, 17 contra e nove abstenções.