O treinador do Braga, fez esta terça-feira a antevisão ao jogo com o Boavista, da ronda 28 da Liga NOS, e foi questionado sobre o tema do momento no futebol mundial: a Superliga.

«Quando queremos estudar a sociedade, basta atentar para o futebol para perceber. Infelizmente, este é um sinal que tem sido dada à escala global. Há um crescendo dos grandes grupos, vemos aqui isso também, que tentam abafar os mais pequenos. As grandes superfícies tentam acabar com os pequenos mercados e com as mercearias. É uma realidade que a distribuição financeira no futebol está em três equipas maioritariamente. A nossa sociedade está a polarizar-se. Há sempre o grupo dos mais fortes e dos mais fracos. Parece-me também que há justiça para os mais fortes e justiça para os mais fracos em Portugal. É uma evidência. Acontecer isto no futebol… Se for avante, é mais um sinal da sociedade que vamos ter no futuro. A sociedade tende a juntar os mais fortes, a aglomerar o dinheiro dos mais fortes e ignorar os mais fracos. O futebol costuma ser uma boa expressão da sociedade. Se o futebol permitir que isto aconteça, vai ser muito mau para a sociedade. Daqui a dez anos vamos ter grandes desequilíbrios na sociedade. É nestes grandes exemplos que percebemos se estamos a viver num período mais equilibrado ou desequilibrado», começou por dizer, em conferência de imprensa.

De seguida, o técnico do Sp. Braga comparou a ideia que deu origem à nova competição ao caso de José Sócrates. 

«Não só no futebol temos de dar o exemplo como também nas grandes decisões. Há pouco falei da justiça e falo de um mau exemplo da justiça. Não estou a dizer se a pessoa é culpada ou não, mas da forma como os processos são desenvolvidos fica a imagem da pessoa que está a olhar para aquilo: o meu vizinho assaltou um supermercado para comer, levou três meses e não prescreveu nada, e aquele se calhar teve aqui um processo onde se movimentaram milhões que desapareceram e prescreveu tudo. Estes exemplos transportam-se para a sociedade e fazem-nos desacreditar. Vai acontecer o mesmo no futebol.

Isto é a negação do futebol, é não perceber as origens do futebol. O futebol nasceu para o povo e é um veículo de exemplo para a sociedade de que com menos recurso podemos bater os que têm mais. O Sp. Braga é um exemplo. Eu sou do meu bairro, vou estudar e vou ser engenheiro e vou conseguir ser melhor que o filho do senhor mais rico. Com estes exemplos funciona tudo ao contrário. O tipo do bairro nunca vai acreditar. Está tudo minado pelos grandes grupos económicos e por um futebol mais forte. E eu que tenho menos recursos, vou ser pequeno para toda a vida. Isto é um exemplo à escala europeia para perceber o que vamos ter no futuro: ou vamos ter sociedade dominada por meia dúzia de pessoas ou sociedade mais igualitária. Sou contra a Superliga, claro», concluiu.