Na Pedreira, as águias podem ter colocado um ponto final nas aspirações de chegar ao segundo lugar, visto que em caso de vitória dos leões os encarnados podem ficar a nove pontos da vice-liderança. Já os arsenalistas distanciam-se, à condição, no quarto lugar, morando agora a seis pontos do Gil Vicente.

Os minhotos que chegaram ao intervalo com quase o dobro dos remates que o rival, apesar de um bom início dos pupilos de Nélson Veríssimo. A realidade é que numa fase precoce do encontro as ocasiões escassearam e o remate cruzado de Yaremchuk, após uma arrancada de Rafa, acabou por ser a grande ocasião das águias, numa primeira parte em que o internacional ucraniano ainda espreitou novo arrombo ao cofre arsenalista, na sequência de um passe de Gilberto.

Este maior domínio encarnado culminou no golo de Vertonghen, porém o lance acabaria anulado por força de um desvio com o braço esquerdo do internacional belga. Reação pronta dos comandados de Carlos Carvalhal que tiveram sempre em Ricardo Horta o enorme arquiteto para os sarilhos na grande área encarnada. 

Germinava o perigo o avançado bracarense e traduzia em golo Iuri Medeiros. O futebolista de 27 anos, à passagem dos 28 minutos, viria a desbloquear o nulo na sequência de um livre direto à entrada da grande área visitante. Sexto golo de Iuri contra o Benfica e, simultaneamente, o sexto remate certeiro no presente campeonato.

Na etapa complementar, a Pedreira viveu nova explosão de alegria e tudo partiu de uma jogada fraternal: André Horta passou ao irmão Ricardo, devolveu a André e o médio entrou na área, fintou o guarda-redes do Benfica, Vlachodimos, e atirou para o fundo da baliza dos encarnados. Instantes depois, o guarda-redes helénico viria a ser gigante e a negar o terceiro a Vitinha. Aos 74 minutos, as águias reentraram na discussão do resultado, após Darwin reduzir de grande penalidade, na sequência de um lance em que Luís Godinho teve de recorrer ao VAR para assinalar o castigo máximo. Num final de jogo, sem tempo para grandes pausas, o internacional uruguaio viria a assistir, três minutos volvidos, para o golo do empate.

E quando se embarca num carrossel sem cinto de segurança há sempre um final à Hitchcock, e a verdade é que aos 79 minutos houve lugar para um novo golo: canto de Ricardo Horta, à esquerda, a bola sobrevoou a grande área, aterrou nos pés de Al Musrati, que cruzou para o flanco contrário, surgindo Vitinha, ao segundo poste, a desviar com êxito. Um triunfo que foi assistido por 16.073 espectadores. Nota até ao fim para a entrada de Berna, aos 90+6, que se estreou na I Liga com a camisola dos minhotos.

Momento do jogo: O golo de Vitinha aos 79 minutos e que selou a vitória do Sp. Braga no Clássico, após cinco minutos impróprios para cardíacos.

Declarações de Carlos Carvalhal, treinador do Sp. Braga, na sala de imprensa do Estádio Municipal de Braga, após a vitória (3-2) frente ao Benfica:

Fizemos muito para vencer o jogo. Os meus jogadores foram coesos, fomos equipa, interpretámos bem o plano de jogo. O plano de jogo passava por, num primeiro momento, condicionar o Benfica a partir da primeira fase de construção, e fizemo-lo bem. Pela qualidade do Benfica, não jogámos tão alto quanto gostaríamos. A partir de determinada altura, conseguimos ter mais bola e tivemos duas boas oportunidades. Acabámos por fazer o golo, praticamente, numa terceira oportunidade. A nossa equipa procurou bastante a largura, teve sempre um bom posicionamento final e reagiu bem à perda da bola. Chegámos ao intervalo a justificar a vitória, há uma reação do Benfica, que foi metendo cada vez mais gente na frente. Nunca nos perturbámos, fomos sempre coesos e fizemos o 2-0. Com o jogo controlado, há aquele lance da grande penalidade, que é grande penalidade, temos de aceitar, mas que não vem de um assédio grande à nossa baliza. O Benfica acredita, chega ao 2-2 com mérito. Depois disso, ter capacidade e força para chegar ao 3-2… Tenho de dar uma palavra forte aos meus jogadores, estou muito orgulhoso deles. Não me canso de os elogiar, porque tenho um grupo muito bom. Deixa-me extremamente feliz.

Temeu o pior após o empate: O Benfica atirou-se completamente para a frente, com jogadores de qualidade, mas a realidade é que, quando assim é, pode haver alguma descompensação. Estávamos à espera disso, e quando há uma equipa que se acobarda, satisfaz-se com o empate e deixa-se ficar, corre o risco de sofrer o terceiro golo. Se há uma equipa que reage, que quer ganhar, apanha a descompensação de um adversário que não está preparado para isso e dá nisto. Podia ter pendido o Benfica se nos tivéssemos aninhado. O Benfica foi apanhado descompensado. Não vou dizer que a vitória é justa ou não, porque o Benfica também fez muito para ganhar o jogo, mas fizemos um jogo muito bem conseguido. A vitória assenta-nos bem.

Iuri Medeiros saiu com queixas: Ao intervalo, já estava a manifestar algum desconforto. A opção foi pela entrada do Couto, porque, naquele momento, era importante, não só atacar, como também fechar o corredor, porque o lado esquerdo do Benfica é muito forte. Fizemos essa cobertura.

Vitinha entrou e marcou o golo da vitória: Se o Abel Ruiz não tivesse o amarelo, se calhar o Vitinha tinha entrado 10 ou 15 minutos mais tarde. Mas, nestes jogos, pode acontecer algum lance menos atento e ficar com dez é terrível contra uma equipa tão forte como o Benfica. Optámos pela substituição ao intervalo, e equacionámos a situação do Al Musrati, que tinha amarelo, mas ainda bem que não o fizemos, porque ele tem um lance brilhante. Aliás, há dois lances brilhantes, que são o do terceiro golo, e a jogada dos irmãos Horta. Só o Ricardo é que conseguia descobrir aquele passe para o irmão.

André Horta estreou-se a marcar: Fez um bom jogo. A equipa, globalmente, fez um bom jogo, e isso, para mim, é o mais importante. Gostava de desejar as maiores felicidades ao Benfica para o jogo com o Liverpool, na terça-feira. Espero que tenha muito sucesso, é muito importante para o futebol português que estejamos neste patamar. Tenho também de dar uma palavra ao Berna. Não é para colecionar mais um jogador da formação. O Berna entra porque tinha prometido ao Berna que o ia meter este ano, nem que fosse um minuto. É um miúdo espetacular, além de ser um jogador espetacular. É um bracarense total, um rapaz que vive o clube de forma apaixonada. Em Arouca, o jogo acabou e ele estava na claque. Abraçou-se aos jogadores que entraram naquele jogo com uma alegria… Parecia que tinha sido ele. No fundo, esta é daquelas situações que me fazem recordar a minha estreia no Sporting de Braga. Se calhar, de todos os jovens que lançámos, foi o dia que mais me emocionou. Está o prémio dado, agora, que ande da perna para ter oportunidades e ter sequência, porque tem qualidade para isso.

Declarações de Nelson Veríssimo, treinador do Benfica, na sala de imprensa do Estádio Municipal de Braga, após a derrota (3-2) frente ao Sp. Braga:

Objetivamente, fizemos um mau jogo aqui, em Braga. Antes do 2-0, não fomos a equipa que sentimos que podemos ser naquilo que é o controlo do jogo com e sem bola. Não entrámos bem, na primeira parte não conseguimos ligar o jogo. É verdade que, depois, a equipa, perante uma desvantagem de dois golos, consegue reagir e fazer o 2-2. No momento em que era expectável que o Sporting de Braga acusasse essa diminuição da desvantagem, sofremos o golo numa bola parada. É algo que sentimos que não pode acontecer. No momento em que sentimos que podemos ir à procura da vitória, sofremos o golo numa bola parada. O que fica além da derrota é o mau jogo que fizemos. Temos, rapidamente, de fazer a análise do jogo e recuperar os jogadores, porque na terça-feira temos outro desafio.

Benfica passou 24 minutos sem rematar à baliza: Para fazer golo, temos de rematar. Sentimos que um dos problemas que tivemos foi na criação de espaços para atacar a profundidade e depois rematar à baliza. Não tivemos essa capacidade. Sentimos que podíamos ter feito muito mais. Nós, todos em conjunto, porque quando ganha um, ganham todos, e quando perde um, perdem todos. Em primeiro lugar, está aqui o treinador para assumir essa responsabilidade.

Derrota abala a confiança: As derrotas nunca são benéficas. Num clube com a responsabilidade que o Benfica tem, sabemos que o único caminho é ganhar. Quando isso não acontece, é porque algo não está bem, mas vai servir para refletirmos sobre o que andamos aqui a fazer, todos em conjunto, e depois perceber o que devíamos ter feito hoje. O jogo com o Liverpool vai ser de grau de dificuldade elevado.

Veja aqui os melhores momentos da partida desta noite:

Ficha de Jogo

Jogo no Estádio Municipal de Braga.

SC Braga – Benfica, 3-2.

Ao intervalo: 1-0.

Marcadores:

1-0, Iuri Medeiros, 28 minutos.

2-0, André Horta, 59.

2-1, Darwin, 74 (grande penalidade).

2-2, João Mário, 77.

3-2, Vitinha, 79.

Equipas:

– SC Braga: Matheus, Tormena, David Carmo, Paulo Oliveira, Fabiano, Al Musrati, André Horta (Castro, 78), Rodrigo Gomes (Francisco Moura, 78), Iuri Medeiros (Yan Couto, 56), Ricardo Horta (Bernardo Couto, 90+6) e Abel Ruiz (Vitinha, 46).

(Suplentes: Tiago Sá, Diogo Leite, Yan Couto, Lucas Mineiro, Castro, Moura, Bernardo Couto, Falé e Vitinha).

Treinador: Carlos Carvalhal.

– Benfica: Vlachodimos, Gilberto, Otamendi, Vertonghen (Diogo Gonçalves, 65), Grimaldo, Meite (Paulo Bernardo, 65), Weigl, Everton (Darwin, 46), Rafa Silva, Gonçalo Ramos (João Mário, 46) e Yaremchuk (Seferovic, 65).

(Suplentes: Hélton Leite, André Almeida, Diogo Gonçalves, Morato, João Mário, Paulo Bernardo, Radonjic, Darwin e Seferovic).

Treinador: Nelson Veríssimo.

Árbitro: Luís Godinho (Associação de Futebol de Évora).

Ação disciplinar: cartão amarelo para Abel Ruiz (08), Vertonghen (26) e Al Musrati (30).

Assistência: 16.073 espetadores.