Um grupo de investigadores detetou uma nova variante do vírus a circular na região de Nova Iorque, nos Estados Unidos. Mais uma vez, teme-se que a eficácia das vacinas contra a covid-19 possa estar em causa.

Atualmente, a covid-19 ocupa o tempo de milhares de cientistas e investigadores em todo o mundo numa luta desenfreada contra a propagação do vírus. Com o aparecimento das vacinas, a deteção de novas variantes torna-se ainda mais urgente, para que a imunização não fique comprometida. Um grupo do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) e outro da Universidade de Columbia (cujo estudo ainda não é público) descobriram uma nova variante da SARS-CoV-2 em Nova Iorque.

A mutação B.1.526 apareceu pela primeira vez em novembro, mas durante este mês parece estar em crescimento, sobretudo na região de Nova Iorque, avança o jornal “The New York Times” (NYT). Mais concretamente, a variante será responsável por uma em cada quatro das sequências virais analisadas.

Os cientistas do Caltech analisaram, num estudo publicado esta terça-feira, milhares de sequências virais a partir da base de dados da iniciativa científica GISAID. A equipa concluiu que havia “um padrão recorrente” e “concentrado” da SARS-CoV-2 naquela parte dos EUA, explicou Anthony West, biólogo computacional do instituto, ao jornal norte-americano.

A nova variante foi encontrada pelo instituto com a mutação E484K, observada na África do Sul e Brasil, e com a mutação S477N, que pode afetar a forma como o vírus se liga às células humanas. Este mês, as duas juntas representavam cerca de 27% das infeções na cidade de Nova Iorque e formam a B.1.526.

Por outro lado, a Universidade de Columbia analisou mais de mil amostras dos pacientes do seu centro médico. Cerca de 12% das pessoas foram infetadas com a variante que contém a mutação E484K — eram utentes seis anos mais velhos do que a média e com mais probabilidade de terem sido hospitalizados.

“Vimos casos em Westchester, Bronx e Queens, na parte baixa de Manhattan e em Brooklyn”, disse ao NYT , David Ho, diretor do Centro de Pesquisa Aaron Diamond, que se dedica ao estudo do vírus HIV, mas que nos últimos tempos tem-se concentrado também na SARS-CoV-2. “Parece ser generalizado. Não é um único surto”, sentenciou.

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David Ho adiantou que a Universidade de Columbia já contactou o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, bem como as autoridades da cidade e do estado de Nova Iorque.

Apesar da descoberta, nenhum dos estudos foi validado por outros cientistas nem publicado numa revista científica. Porém, outros especialistas (não envolvidos na pesquisa) reconheceram ao “The New York Times” que a nova variante em Nova Iorque é para levar a sério.

“Não é uma notícia particularmente feliz”, afirmou o imunologista Michel Nussenzweig, que diz estar mais preocupado com esta descoberta do que com variante da Califórnia. Já a virologista Kristian Andersen defendeu que, existindo a deteção das mutações E484K e S477N na variante nova-iorquina, “é definitivamente” importante estar atento.

A informação torna-se particularmente relevante numa altura em que a vacina começa a ser administrada um pouco por todo o mundo. Vários estudos adiantam que a mutação E484K, por exemplo, pode contornar a imunidade da vacina. Os vacinados “podem recuperar, mas ficam um pouco doentes”, conclui Michel Nussenzweig.