A estilista americana que “copiou” a camisola poveira já pediu desculpa nas redes sociais e afirma que vai trabalhar com autarquia da Póvoa de Varzim para reconhecer a tradição. A câmara municipal confirmou o contacto e está em conversações com Tori Burch.

O caso começou há três semanas quando o presidente da Junta da Póvoa foi alertado para o caso por uma poveira, indignada com o “roubo”. As semelhanças deixaram Ricardo Silva sem palavras: a lã, os bordados a ponto de cruz vermelho e preto, os “tremidinhos” no decote e os “castelinhos” nos punhos e cós, os motivos da pesca e até a coroa da monarquia portuguesa. Tudo “by Tory Burch” por 695 euros e descrito como uma “sweater inspirada na baja mexicana”.

O presidente da Junta, que desde 2015 luta pela certificação da camisola poveira, escreveu à estilista. Queria saber se tinha havido um erro do departamento de novas criações. “Nunca recebi resposta, mas, no site, deixou de ser ” Baja inspired Sweater” para ser “Sweater Tunic” e, na descrição, as referências ao México desapareceram, mas continua a não haver nenhuma referência às camisolas poveiras”, explicou.

E o problema maior, diz, é que “o dano maior ficou”: agora, no maior motor de busca do mundo – o google – uma pesquisa por “baja inspired sweater” mostra uma camisola poveira como sendo uma coisa mexicana, um rasto impossível de apagar.

Estilista pede desculpa

Tori Burch reconheceu, esta quinta-feira ao final da tarde, o erro numa publicação na sua conta oficial do Twitter e do Facebook. “Pedimos sinceras desculpas ao portugueses – foi levado ao nosso conhecimento que atribuímos erroneamente uma camisola da nossa coleção Primavera 2021 como inspirada em Baja-Mexico”.

A estilista norte-americana diz que a equipa está a corrigir o erro “de imediato” e a “trabalhar em conjunto” com a Câmara Municipal da Póvoa de Varzim “de forma a encontrar as melhores soluções para apoiar os artesãos locais”.

A autarquia confirmou ao JN que está em conversações com a designer. Caso cheguem a acordo, não vão avançar com um processo judicial, como tinham adiantado esta quinta-feira à tarde.

“Exigimos o reconhecimento da propriedade intelectual”, explicou ao JN, o presidente da Câmara da Póvoa, Aires Pereira, antes do pedido de desculpas público da estilista, considerada a 88.ª mulher mais poderosa do mundo (Forbes, 2020).