As famílias com rendimentos mais baixos serão muito mais duramente atingidas pela inflação e pelas subidas das taxas de juro a partir do final de 2022 e poderão não pagar as suas dívidas, adverte o Banco Central Europeu (BCE).

Num artigo do relatório de estabilidade financeira, publicado hoje, os economistas do BCE consideram que as famílias com rendimentos mais baixos são tipicamente as mais propensas a entrar em incumprimento.

O vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, apresentará na quarta-feira numa conferência de imprensa virtual o relatório, do qual o BCE hoje antecipou algumas informações.

Os países nos quais os bancos teriam empréstimos mais problemáticos devido aos incumprimentos devido à inflação e ao aumento das taxas de juro são Chipre, Grécia, Irlanda, Espanha e Portugal.

Os bancos destes países já tinham uma percentagem mais elevada destes empréstimos antes de os preços subirem tanto e o BCE começar a subir as taxas de juro.

A deterioração da qualidade dos ativos afetará os bancos em países com uma maior proporção de empréstimos a famílias com rendimentos mais baixos, que sofrem mais com a inflação e o aumento das taxas de juro e têm menos ativos líquidos disponíveis.

As famílias de baixos rendimentos gastam 70% dos seus rendimentos em despesas básicas tais como alimentação, energia ou habitação, em comparação com 34% das famílias de rendimentos médios.

O impacto da subida das taxas de juro é menor no curto prazo para empréstimos a taxa fixa, mas muito maior para empréstimos a taxa variável.

No entanto, a médio e longo prazo, o aumento do preço do dinheiro traduzir-se-á em taxas hipotecárias mais elevadas, aumentando assim fortemente o custo do reembolso da dívida das famílias que contraíram hipotecas em anos em que as taxas de juro eram muito baixas.